terça-feira, 24 de março de 2015

Caio Blinder- Adelante, Felipe

González com Mitzy Capriles, a mulher do prefeito de Caracas, detido pelo chavismo

O venerado ex-primeiro-ministro socialista vai adiante, pois quem mais deveria ir empaca e assim é complacente com os desmandos de um regime chavista que ameaça se converter em uma ditadura escancarada. Felipe González entende de ditadura (o franquismo) e sabe como é crucial negociar uma transição para algo melhor, mais promissor. Não é isto que está sendo feito na América Latina. Sequer o mínimo trabalho de zelar pelos direitos humanos é empreendido na vizinhança da Venezuela, com raras e honrosas exceções.
Assim, González deve assumir a defesa dos dois principais presos políticos do regime chavista, a pedido de suas famílias. Eles são o líder oposicionista Leopoldo López, detido há mais de um ano, e o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, detido em fevereiro passado. São acusados de golpismo e pela violência em protestos em fevereiro de 2014 contra o desgoverno de Nicolás Maduro, que resultaram em mais de 40 mortos.
Como lembra o jornal espanhol El País, Felipe González tem uma profunda relação com a Venezuela desde os anos 80, mas esta “intervenção” é fruto da crescente deterioração dos direitos humanos no país dominado pela chavismo e da ausência de garantias jurídicas para os acusados, detidos em prisão militar. Nas palavras do El País, o ex-primeiro-ministro espanhol “também pretende romper o silêncio que mantiveram a maioria dos governos da América Latina diante dos abusos do regime chavista”.
A decepção é procedente e deve ir muito mais fundo. OEA e Unasul fracassaram até agora na tentativa de mediar a crise política venezuelana. O governo Maduro tampouco escutou os pedidos para libertar os presos políticos feitos pela ONU, o Parlamento Europeu, e os governos dos EUA, Espanha, Canadá e Colômbia, assim como a Internacional Socialista, a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, entre outras instituições.
Nicolás Maduro alega que não existem presos políticos na Venezuela, mas políticos presos. A resposta de Felipe González: “Há políticos presos por serem políticos”.
Já a América Latina em grande escala pratica a política do atraso, avessa à grandeza de políticos como Felipe González para se desgarrar das amarras de um regime errado em nome de uma equivocada solidariedade.


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