sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Ordem Livre- “Política Industrial”: apenas um novo nome para o planejamento central

Os problemas atuais da economia não chegam nem perto de ser tão ruins quanto os da Grande Depressão. No entanto, como aconteceu na Grande Depressão, estão levando muitas pessoas a repensar o papel do governo na economia. Os clamores por mais regulamentações estão maiores do que em qualquer outro momento da minha vida adulta de que eu consiga me lembrar. (Acabei de fazer 50 anos.)
Os apelos por uma “política industrial” são particularmente assustadores. Esse termo é outro nome para o planejamento central.
Nos Estados Unidos de hoje, os desejos em favor de uma política industrial nascem do medo da mudança – das ansiedades das pessoas em relação à competição em uma economia de mercado dinâmica, na qual os produtores servem os consumidores (em vez do contrário).
Em qualquer economia que mereça ser chamada de “bem sucedida”, os consumidores são soberanos. Os produtores existem para satisfazer os desejos dos consumidores. Caso os consumidores não queiram mais comprar espartilhos ou enviar telegramas, os produtores que outrora prosperavam com o fornecimento de espartilhos e com o envio de telegramas não terão mais razões para continuar esses negócios.
Uma política industrial inverte essa relação. Os consumidores passam a existir para o benefício dos produtores.

Ou, mais precisamente, os consumidores existiriam para o benefício dos produtores já estabelecidos – as empresas, indústrias e profissões que por acaso são predominantes no momento em que a política industrial é implementada. Os futuros produtores seriam excluídos pela própria política, que os impediria de entrar no mercado.
A empresa que iria produzir um dispositivo que cura o câncer de pulmão, mas que ainda será inventado; a indústria que produziria um motor para automóveis movido a folhas de árvores, mas que ainda não foi criado; os especialistas que nos educariam por meio de um processo inovador, mas que ainda será desenvolvido – esses produtores, e inúmeros outros na mesma situação, seriam prejudicados, e não ajudados, por uma política industrial.
A única forma pela qual a política industrial pode garantir que as indústrias, empresas e empregos existentes não serão “destruídos” é através da limitação da competição. E a competição que deverá ser estritamente limitada não será apenas aquela que acontece entre empresas nacionais e estrangeiras, mas também a competição entre as empresas criadas dentro do próprio país e entre as inovações e invenções nacionais.
Qualquer produto novo, empresa nova ou mesmo método novo de fabricação de produtos já existentes ameaça alguns dos produtores já estabelecidos. Se os empreendedores tivessem a liberdade de inovar e inventar, e se os consumidores tivessem a liberdade de comprar os bens e serviços resultantes – os produtos e os lucros das empresas estabelecidas divergiriam, inevitavelmente, daquilo que se espera da “política industrial”.
Para fazer com que o lucro das empresas retornasse aos níveis anteriores, seria necessário que o governo as subsidiasse ou que freasse as invenções e inovações. Em ambos os casos, os consumidores seriam forçados a pagar por produtos que não desejam – seja através da tributação para financiar os subsídios ou sendo impedidos de gastar seus dólares comprando os bens de consumo de sua escolha.
E as coisas podem piorar. Essa “política” de bloquear as mudanças econômicas se tornaria, inevitavelmente, cada vez mais cara. Protegidos da competição, os gerentes das empresas se tornariam preguiçosos e menos diligentes. Por que arriscar, se o Tio Sam irá protegê-los das conseqüências que poderiam surgir? Então, o tamanho dos subsídios necessários para se manter intacta uma “política industrial” – ou seja, evitar os produtores já estabelecidos sofram com as ameaças sobre seus mercados e seus lucros – deverá crescer.
Da mesma forma, à medida que as empresas se tornam cada vez mais insensíveis às demandas do consumidor, a tentação de novas empresas de ganhar a preferência dos clientes vai ficar mais forte, assim como ficará mais forte o desejo dos consumidores de apoiar esses empreendimentos. Surgirá um mercado negro e cinza.
Porém, o Tio Sam tem poder suficiente para manter a sua política industrial “funcionando” por um bom tempo. Mas “funcionando” quer dizer que ela funcionaria dentro de seus limites estreitos. Ela funcionaria bem na proteção dos atuais produtores, congelando eficientemente a economia, tornando estática uma economia outrora dinâmica – fazendo estagnar um movimento que anteriormente era o tempo todo renovado com novas idéias e oportunidades, e matando o que outrora estava vivo.
Uma política industrial implementada com seriedade por Washington fará com que os americanos (e, na realidade, todas as pessoas no mundo) fiquem significativamente mais pobres. A prosperidade não é, e não pode ser, criada ou mantida por políticas construídas sobre a premissa de que os produtores devem ser servidos pelos consumidores.
Prosperidade significa ampla satisfação dos desejos dos consumidores. As empresas que satisfazem esses desejos deveriam ser celebradas e deixadas em paz para continuar com seus negócios. Porém, a partir do momento que deixarem de satisfazer aos desejos dos consumidores, por qualquer razão que seja, esses empresas também deverão ter a liberdade de morrer sem interferências.
Essa é a única “política industrial” de que precisamos.
Donald J. Boudreaux é o diretor do departamento de economia da Universidade George Mason.

* Publicado originalmente em 07/10/2008.

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