sábado, 20 de dezembro de 2014

Caio Blinder- Curtas & Finas (Cuba & Venezuela)

O regime castrista por si é um equívoco, uma perdição, mas ele aprendeu com seus erros, com alguns dos seus maiores desastres. A gerontocracia de Havana está consciente dos riscos da dependência, especialmente depois que a economia sofreu um colapso no começo dos anos 90 com a implosão da União Soviética. A Rússia de Vladimir Putin ainda é um benfeitor de Cuba, mas está aí amargando seus graves problemas devido aos preços mais baixos do petróleo e às sanções ocidentais como punição contra a agressão na Ucrânia.
No entanto, o cordão umbilical de Havana hoje é com Caracas. No começo, Fidel Castro exercia um fascínio paternal sobre Hugo Chávez. Velhos tempos. Agora, é o regime castrista que tenta se desgarrar um pouco do chavismo conduzido por Nicolás Maduro. Um dos motivos para Cuba buscar o degelo com os EUA, após mais de meio século de um conflito geriátrico, é a fria na qual se encontra a Venezuela.
O regime castrista precisa suavizar o embargo e conseguir dólares para compensar o cenário realista de uma Venezuela que pode quebrar, sofrendo barbaridades com o equívoco em si que é o chavismo e a baixa dos preços do petróleo. Havana corre para diversificar sua economia, distanciando-se do afago do chavismo, que proporciona cerca de 100 mil barris de petróleo por dia (60%  de suas necessidades energéticas) em troca de Mais Médicos e otras cositas más,como agentes de segurança. O escambo não pode durar muito tempo.
O petróleo representa 95% das exportações da Venezuela e desde junho os preços do barril caíram 40%. O cenário é de desestabilização, com muita gente discutindo quando e como o regime chavista irá implodir, com temores de caos. Na avaliação da Eurasia, a empresa de estratégia de risco, a possibilidade de um calote chavista na sua dívida externa no segundo semestre de 2015 é de 60% caso não ocorra uma recuperação dos preços do petróleo. A Cuba da penúria não pode se dar ao luxo de esperar e com a benção do papa Francisco estendeu a mão para os ianques.
A histórica normalização de relações diplomáticas entre Cuba e EUA deve baixar um pouco o volume do discurso boquirroto do castrismo contra o imperialismo ianque. Havana perdeu munição retórica, mas Caracas se engaja com gosto na fuzilaria verbal, especialmente agora que o Congresso em Washington adotou sanções, assinadas pelo presidente Obama na quinta-feira, em represália à repressão contra opositores em protestos em abril que deixaram mais de 40 mortos.
Nicolás Maduro trata a normalização das relações diplomáticas entre Washington e Havana como uma capitulação do império americano, mas na verdade ele se sente incomodado e ameaça se converter em um aríete quase isolado para a investida de clichês. Na quinta-feira, o governo chavista reagiu contra a ratificação das sanções por Obama, fulminando que se trata de “uma nova etapa de agressões contra a pátria de Bolívar”.
Resta saber se, como o castrismo, o chavismo irá capitular à realidade ou se mostrar ainda mais retrógado do que o mentor.

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