sábado, 25 de outubro de 2014

VIDA EM CUBA- DO BAÚ- ESCOLINHAS E ESCOLINHAS- YOANY SÁNCHEZ

Escolinhas e escolinhas

Niños cubanos cantan “Somos pioneros del comunismo, seremos como el Ché” al iniciar hoy el curso escolar – REUTERS/Desmond Boylan (Imagen y leyenda de la imagen tomadas de http://www.noticias24.com)
Na semana passada encontrei na rua um amigo italiano que vive em Cuba há quase uma década. Ocorreu-me lhe perguntar pelos seus filhos, dois adolescentes que nasceram em Milão, porém agora crescem em Havana. “Estão aqui, na escola francesa” confirmou-me sorridente. No primeiro instante não entendi por que havia optado por aquele ensino francófono, porém me esclareceu. “O que queres que os mande à escola pública?” Com a péssima educação que há aqui! Perguntando, soube que eles compartilham aulas com filhos de diplomatas, de correspondentes estrangeiros e de figuras da nossa cultura que contraíram matrimônio com algum imigrante. Por um pagamento de 5220 CUC (5800 USD) por ano, cada rebento do pançudo milanês está bem atendido e instruído.
A primeira impressão daquele encontro foi que meu amigo exagerava, porém imediatamente lembrei da minha própria experiência como mãe de um escolar. Visualizei a quantidade de tacos, garrafas de detergente e escovas que temos doado – ao longo destes anos – para conseguir que os corredores e os banheiros do colégio estivessem, ao menos, apresentáveis. Nessa lista também ficava o cadeado para a porta da sala que repusemos em várias ocasiões e o ventilador comprado por todos os pais, pois o calor sufocante impedia os meninos de manter a atenção. Tampouco não esqueci a infinidade de vezes que os exames foram impressos em nossa casa porque não havia papel, nem tinta e nem uma impressora funcionando na escola. A merenda que em tantos meios dias presenteamos aos professores, pois a comida do refeitório estava simplesmente sem condições de apresentação.
Contudo decidi não ficar somente com os altos custos materiais destes anos escolares e continuei conectando memórias. Recapitulei aqueles momentos em que foram implementadas as chamadas tele-aulas que chegaram a cobrir mais de 60% das horas de ensino através de uma televisão. As magníficas professoras e professores que decidiram sair das suas casas para fazer unhas, vender café ou se recolocaram no setor de turismo porque a mistura de alta responsabilidade e baixos salários lhes era insuportável. E também tive um minuto para os professores do primário e do secundário que apesar de tudo ficaram em seus postos. Enumerei uma a uma todas as atrocidades ditas a tantos adolescentes pelos professores emergentes (deveriam ser chamados de professores instantâneos); de que a bandeira cubana tem uma estrela de cinco pontas pelo número de agentes do Ministério do Interior que estão presos pelos norte-americanos até que a Nova Zelândia está situada no mar do Caribe. Reconstruí também à tarde em que uma professora anunciou ante nosso filho que muito perto dali estava se realizando um ato de repúdio contra “perigosos contra-revolucionários” e o pequeno Teo engoliu em seco, pois sabia que a sua mãe e seu pai estavam entre as vítimas daquele assédio. Desfilaram em frente aos meus olhos as ocasiões inumeráveis em que uma auxiliar de roupa justa e umbigo para fora ou um professor com dente de ouro e uma águia no pulôver criticou o cabelo longo dos alunos e não os deixou entrar para as aulas.
Não faltaram, na minha evocação catártica daquela tarde, as palavras de ordem repetidas até o cansaço, as rotineiras e intermináveis assembléias matutinas, o culto a personalidade de uns homens que aparecem nos livros de história como salvadores e nos livros de ciência como cientistas. Tudo isso me fez, no final da minha reflexão, compreender porque o meu amigo italiano prefere a “escolinha francesa” de Havana. Porém também soube que seus filhos crescerão com uma idéia muito diferente do que é a educação nesta Ilha. Acreditarão que os bem iluminados e adequados locais onde recebem cada curso, o almoço balanceado, a solícita professora e os materiais escolares de qualidade são características inerentes ao nosso sistema educacional. Não descarto que algum dia – de volta à Europa – participem de algum protesto de rua para que sua educação pública se pareça com a nossa, para que seus filhos gozem do que eles “conheceram” em Cuba.
Tradução e administração do blog em língua portuguesa por Humberto Sisley de Souza Neto

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