sábado, 25 de outubro de 2014

TIRANDO DO BAÚ- VIDA EM CUBA- YOANI SÁNCHEZ

Quando vejo a televisão

Esta semana fazemos uma terapia anti-televisão em nossa casa. Começamos gradualmente e estamos agora na etapa de ligar o “gordito autosuficiente” porem sem som. É interessantíssimo o que se consegue. Ante nossos olhos passam imagens, que de tão previsíveis a própria imaginação lhes põem voz e som. Se aparece um campo semeado, ouço dentro de mim um conhecido locutor que anuncia uma superação na produção de batatas. Se, em seu lugar, o que vemos são imágens de pessoas vestidas com jalecos brancos, então imediatamente emerge na minha mente o discurso sobre médicos cubanos que oferecem seus serviços na Bolívia ou Venezuela.
O que nunca ocorre é que ao ver, sem som, uma dessas reportagens, surja de mim algo cotidiano e realista  que se pareça ao que ouço cada dia na rua.  Nossa televisão nos mostra “o que devíamos haver sido” ou, pior ainda, “o que devemos crer que somos”. Assim é que o locutor que todos levamos dentro nunca diz algo como “os preços estão nas nuvens”; “na policlínica só restam 17 médicos, porque todos os demais se foram em missão”; “se não roubo no trabalho não posso viver” ou “onde estão as malditas batatas que não chegam?”.
A televisão se parece tão pouco com a minha vida, que chego a pensar que a minha existência é que não é real; que as caras aumentadas que vejo na rua são atores que mereceriam um Oscar ( ou um Coral); que as centenas de problemas dos quais me esquivo para alimentar-me, transportar-me e simplesmente existir, são somente parágrafos de um roteiro dramático  e que a verdade, de tanto que insistem, deve ser a que me conta o jornal Granma, o Noticário Nacional de Televisão e a Mesa Redonda.

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