quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Caio Blinder- Escoceses, naw, naw, naw!

Há um ano, eu não acordava pensando na Ucrânia (com todo respeito por meus avós que nasceram naquelas bandas). Agora, tenho pesadelos diários (geopolíticos) por causa do belicismo de Vladimir Putin. Esta semana até a Suécia, aquele paraíso nórdico da tolerância, me deixou sobressaltado devido ao avanço da extrema-direita com raízes neonazistas nas eleições de domingo. E ainda por cima tem este referendo sobre independência na Escócia na quinta-feira para nos assustar.
É para assustar mesmo. O referendo dá uma medida de convulsões na velha Europa. Por que desfazer uma união tão bem sucedida e civilizada de 307 anos entre Inglaterra e Escócia, no casamento dentro da Grã-Bretanha? Pelas pesquisas, metade dos escoceses não pensam assim e acham que chegou a hora do divórcio, que, no final das contas, não será tão amigável, tão fleugmaticamente britânico.  Hora de dizer “sim” pela independência. Pelas pesquisas, o resultado de quinta-feira vai ser no sufoco, embora haja alertas de que os números finais podem enganar pela margem mais folgada, a favor ou contra.
Já li tantas teorias que a crise no casamento é culpa do tédio, da arrogância inglesa e do desejo de aventura dos escoceses (que tiveram esta tradição na expansão do império britânico). Outros fatores: nacionalismos e tribalismo estão em alta. Há também uma explicação ideológica. Os escoceses estão à esquerda dos ingleses e não gostam do governo conservador em Londres (no Parlamento britânico, dos 59 deputados escoceses, apenas um é conservador).
No entanto, nada disse me convence muito, embora haja uma dose de cada explicação no drink. A Escócia não é colônia do império e preserva sua identidade nacional dentro do Reino Unido. Pelas contas, já foram onze primeiros-ministros escoceses a serviço de sua majestade. O ex-primeiro-ministro trabalhista (e escocês) Gordon Brown se tornou figura indispensável e infatigável na campanha pelo “não” no referendo.
Houve, aliás, muito descaso, na campanha do “não” e agora é este desespero para recuperar o tempo perdido. Semanas atrás, parecia conversa de bêbado achar que o “sim” venceria o referendo. Agora, é uma campanha movida pelo medo, com o objetivo de aterrorizar os escoceses sobre o preço que irão pagar pelo divórcio. Será um acerto litigioso sobre moeda, dívida, receitas, petróleo no mar do Norte e adesão à União Europeia. A retórica é apocalíptica: será o fim da Escócia, o fim da Grã-Bretanha, o fim da União Europeia. Haverá o efeito cascata de movimentos separatistas na Espanha, Itália e Bélgica. Meu Deus, até no Texas.
Alguns têm medo que esta campanha de medo irrite os teimosos escoceses e muitos decidam votar aye de pirraça. É verdade que este terror eleitoral da campanha do “better together”, melhor juntos, é acompanhada de promessas de mais poderes e controle de recursos pelo  Parlamento escocês, conforme o documento firmado na terça-feira pelo primeiro-ministro conservador David Cameron e pelos líderes trabalhista, Ed Miliband, e liberal democrata, Nick Clegg.
Eu reitero minha aposta. Para o Instituto Blinder & Blainder, este esforço que mescla terror e ternura irá funcionar a favor do naw na quinta-feira. Já o líder separatista, o primeiro-ministro escocês Alex Salmond, promete demais, a destacar que com o petróleo do mar do Norte, a Escócia independente será uma Noruega rica e igualiatária. A maldade de chamar Salmond de Hugo Chávez do Norte é saborosa, mas mentirosa (ele não tem os delírios messiânicos e autoritários do finado). O risco é que não haja tanta petróleo assim para as próximas décadas para pagar os generosos gastos sociais. Assim, a Escócia independente termina, não como uma Noruega, e sim como uma Grécia.
Espero que na hora E, os escoceses votem com sobriedade e decidam manter o casamento de 307 anos.  Se optarem pelo porre, só me resta repetir a minha piadinha de balcão de pub. O nome da nova moeda poderia ser scotch.


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