quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A palavra-chave é produtividade, e para isso precisamos de mão de obra qualificada

Um levantamento feito pela Folhacom base nos dados do Ministério do Trabalho mostra que as profissões de baixa formação educacional foram responsáveis por metade das vagas geradas no mercado formal de trabalho entre 2007 e 2013. Os novos empregos se deram basicamente em áreas menos sofisticadas, e isso fez com que a produtividade total do trabalho reduzisse o ritmo de expansão durante o governo Dilma, para míseros 1,7% ao ano.
Ou seja, há baixa taxa de desemprego, mas as vagas que foram criadas são pouco produtivas, o que ajudaria a explicar a estagnação econômica somada ao pleno emprego. Resta lembrar, ainda, que isso é medido apenas com base no mercado formal, e o desemprego é calculado com base em quem procura emprego e não acha, ou seja, todos aqueles da geração “nem-nem”, que nem estuda nem trabalha, e os que vivem de esmolas estatais e optaram por permanecer na informalidade para acumular salários não entram nas estatísticas.
Segundo cálculo do economista Naercio Menezes, do Insper, os salários com formação mais baixa subiram oito vezes mais do que os dos mais qualificados. A política de transferência de riqueza e salário mínimo do PT pode explicar parte disso, mas a questão que surge é: quão sustentável é isso? Se os salários aumentam sem elo com a produtividade, a economia não consegue ser competitiva, e o caminho é o desemprego à frente. Os trabalhadores menos produtivos são os que mais sofrem com a recessão, que já bate à porta.
O desafio é criar vagas em empregos mais nobres e qualificados. Mas isso demanda cursos especializantes, investimento em educação de melhor qualidade, atrelada às necessidades do mercado (a ideologia de esquerda em nossas universidades, especialmente as federais, impede isso), e uma economia mais competitiva em outras áreas, com uma infraestrutura decente, uma carga tributária menor, uma lei trabalhista mais flexível e um ambiente de negócios mais favorável.
Afinal, isso tornaria as empresas mais eficientes e competitivas vis-à-vis seus pares globais, permitindo o pagamento de melhores salários. Infelizmente, no Brasil muitos ainda acreditam que o aumento dos salários depende apenas de “vontade política”, de pressão sindical contra os patrões “exploradores”. Aí não tem jeito mesmo, pois não há milagre que faça o salário maior se sustentar sem a contrapartida na produtividade.
“Os que acharam que a vida ia ser para sempre uma festa agora tendem a ficar sem emprego. Meu conselho é: façam como o time da Alemanha, se preparem, se especializem”, diz Antonio Setin, presidente da construtora Setin. A baixa produtividade do trabalho é o grande calcanhar de Aquiles do país hoje, e mostra como a euforia recente com nossa economia foi injustificada.
Não é que os trabalhadores tenham ficado mais ricos porque aprenderam inglês e matemática, ou a mexer em máquinas modernas, a desenvolver tarefas mais especializadas; foi tudo calcado em transferência unilateral do governo, medida populista e insustentável. Agora está chegando a conta. Ou focamos nas reformas estruturais para aumentar nossa produtividade, ou haverá sofrimento e ranger de dentes em breve.
Rodrigo Constantino

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