sexta-feira, 18 de julho de 2014

Caio Blinder- Nos ares ucranianos

Evidentemente algo gravíssimo aconteceu nos ares ucranianos e as consequências em terra muito em breve poderão se revelar históricas. Caso o desastre com o voo MH-17 da Malaysia Airlines tenha sido um mero acidente (algo extremamente improvável), por si estamos falando de um episódio tenebroso por sua dimensão e pelo fato de ser o segundo com um Boeing 777  da companhia desde março (o outro ocorrido no Pacífico continua envolto em mistério). Eu de férias nas bandas asiáticas, programado para em questão de dias viajar para o Vietnã das Filipinas, não me vejo pegando tão cedo um avião da Malaysia Airlines (o vôo MH-370 ia de Kuala Lumpur para Pequim).
A conversa obviamente tem sua dimensão geopolítica. O voo MH-17 perdeu contato quando estava prestes a entrar no espaço aéreo russo. É uma denúncia plausível que o Boeing 777 tenha sido abatido pelos separatistas pró-russos. Afinal, nos últimos dias foram registradas as preocupações entre governos ocidentais de que a Rússia de Vladimir Putin está acelerando o fornecimento de equipamento militar mais sofisticado aos rebeldes, agora acuados pelas forças governamentais ucranianas. Na guerra de agitprop, Moscou garante ser “estúpida” a acusação do seu envolvimento e os separatistas rebatem que o desastre foi obra do governo de Kiev. Estúpido, porém, é o envolvimento russo nas questões ucranianas.
Não sou especialista em acidentes aéreos, mas neste caso não me parece que será algo tortuoso chegar às conclusões técnicas sobre o que aconteceu. Sem dúvida que não será simples, na medida em que o avião caiu em território controlado por rebeldes, que já estão de posse de evidências e tudo isso tendo uma guerra de narrativas como pano de fundo.
Se as investigações provarem que houve uma mão russa na tragédia, será difícil para o nosso homem em Moscou se evadir com o seu jogo duplo de controlar a temperatura da crise, com a intervenção para desestabilizar o governo pró-ocidental de Petro Poroshenko, mas não ao ponto de se aventurar a uma invasão aberta e ao risco de sanções americanas e europeias da pesada.
A questão é o que acontece doravante. São razoáveis que tenham tido lugar contatos imediatos de primeiro grau entre Putin e o presidente americano Barack Obama, que acabou de adotar mais uma rodada de sanções, para impedir uma degringolada ou mal entendidos. Estamos no meio das celebrações e reflexões sobre o início da Primeira Guerra Mundial há cem anos, um caso clássico de estudo em que acidentes ou incidentes têm desdobramentos que alteram o curso da história. Vamos ver agora, assim que as coisas se clarearem nos ares ucranianos e tivermos uma noção melhor da rota da crise.

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