Não importava
o sol abrasador que torrava os miolos. Não importava o odor terrível que
emanava daqueles latões de lixo, tanto que até urubus passavam por perto usando
máscaras. Mas Demétrio não se importava; lá estava todos os dias mexendo em
tudo, fedendo ele próprio mais que os restos ali depositados. Seu corpanzil há
anos não sabia o que era uma carícia das águas que não fosse da chuva.
Carregava moscas pelo rosto todos os dias, como se fosse um lotação de insetos,
sendo algumas também embarcadas nas orelhas. Vivia, comia e dormia na
imundície, lugar mais sujo impossível. O corpo adornado de perebas já nem se
importava mais. Assim foi por muitos e muitos anos. Porém um dia acordou
sentindo-se estranho, muito diferente. Olhou para algumas ratazanas com
segundas intenções. Estava dentuço e peludo. Tinha agora os gostos de um rato,
bigodes de rato, orelhas de rato, dentes de rato, enfim, transformara-se num
rato. Ao contrário do caixeiro- viajante Gregor Samsa, de Kafka, o Demétrio
rato estava feliz. E assim continuou vivendo por mais alguns dias até ser
comido por um gato esfomeado.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2020
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