quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
FLINTO
Flinto, 30, gostava de passar seus dias sentado na calçada e com o lombo encostado ao muro da igreja. Tinha até o lombo já impresso no reboco. Saí dali quando chovia e no mais ali contava passantes, automóveis e observava o céu, suas nuvens e pássaros. Às vezes reunia ali alguns amigos de vadiagem para fumar maconha e beber cachaça, só não me peçam como arrumava dinheiro para isso, já que trabalhar para ele era uma ofensa. Quando o cansaço era demais ele se deitava na calçada para observar a bunda das passantes, distração apenas, pois já estava mais impotente que uma Maria-Mole. Não esperava o tempo passar, o tempo é que esperava por ele. Pois um dia desses, Flinto deitado, um ventinho de nada derrubou o muro sobre ele. Pois aconteceu que Flinto se foi sem dizer um ai. Podemos dizer que apesar da sua aversão à dura labuta, morreu no trabalho de vadiar.
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