sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A TRIBO DIN-DIN

Em meio à floresta amazônica vivia isolada do homem branco a tribo DIN-DIN, que com muita alegria naquele dia comemorava o ano novo Din-Din. Suas choças estavam enfeitadas com flores coloridas e barbas de bode. Fogueiras foram acessas e todo povo cantava e se alimentava em volta delas. Na verdade nem todos, pois a tribo Din-Din era dividida em ocupações laborais, sendo então que quem realmente trabalhava não participava de coisa alguma, como em algumas empresas em que trabalhamos. Os trabalhadores ficavam apenas olhando e babando, sem comes e nem bebes. Caçadores, pescadores e agricultores não faziam parte da festa. Os convidados eram os terneiros da administração, além dos três chefes tribais; Albadin, Serdin e Ernidin, também o curandeiro Arlindin e a poderosa turma da bajulação. O responsável pela contagem dos peixes e das batatas era Ricardin, que cantava feliz, peidando estrondosamente junto com seu colega Noimardin, que ria tal qual moça casamenteira. O encarregado pela produção de alimentos Luzidin, todo alegre, trouxe de presente para seu chefe preferido Ernidin uma coroa de cipó enfeitado com folhas de begônias. A festa estava muito animada quando o curandeiro Arlindin pediu silêncio para fazer seu trabalho de mandinga: arremessou para o alto um punhado de cocô de anta para atrair bons fluidos, segundo uma antiga história da tribo. Um grande pedaço do produto caiu na cabeça de Ricardin, que satisfeito em ser apenas um tolo terneral, pediu mais. Sandin era a única mulher que participava da diretoria tribal e literalmente se dava bem com todos. Antes da noite chegar ela levou o gerente das canoas Snordin para um canto escuro; iria lhe mostrar sua mata fechada. Snordin tentou resistir, porém um beijo de língua e aquela bunda morena o fez sucumbir. Todos na festa bebiam takô, bebida destilada da casca de tutinka, uma árvore que somente cresce nas terras Din-Din. Foi então que em meio ao festerê uma grande tempestade se formou, com ventos fortíssimos que moveram nuvens poderosas e até os fortes Din-Dins de lugar. Mas eles não largaram os ossos, nem mesmo o pesado glutão Gersondin. Quando a tempestade amainou, Serdin ordenou que acendessem novamente as fogueiras e que Noimardin dançasse o Ternerok (dança din-din em que os dançarinos um de frente ao outro, agarrados aos testículos do par valseiam um-pra-cá outro-pra-lá), fazendo dupla com Luzidin. Um pouco a contragosto, porém não querendo contrariar o chefe, a dança começou sob aplausos de todos. Luzidin muito nervoso apertou o saco do parceiro e logo foram se esmurrando, sendo apartados pelo chicote do chefe Ernidin. Num canto,não contente com os gastos festivos que considerou abusivos, Albadin meneou a cabeça em desacordo e com seu fiel escudeiro Mardin voltou para sua choça,agora para reverenciar em silêncio o grande Deus Din-Din. Albadin morria de medo da morte e não deixava nunca de comprar intenções celestiais para poder navegar em paz o rio das trevas quando sua hora chegasse. Até mandou buscar nas tribos vizinhas amuletos dos curandeiros de outras etnias para se proteger dos maus espíritos. Noimardin já um pouco fora de si, por causa da bebida,tentou cantar uma canção da cultura Din-Din,mas foi interrompido pelos chefes pois ninguém suportava mais tamanha desafinação.Quando o Takô pegou mesmo e os deixou tontos,rugidos terríveis foram ouvidos próximos; ficaram todos de cabelos em pé a pensar que belos bifes dariam ao cardápio dos felinos.Luzidin,o corajoso e bajulador número um dos chefes, tomou a decisão obrigada de ser o primeiro; então apanhou sua lança e adentrou a floresta para enfrentar os ferozes animais. O barulho ensurdecedor das onças colocou pânico em todos; lanças e flexas tremiam em mãos outrora destemidas. Depois de meia hora de muito barulho na mata, retornou o valoroso Luzidin completamente apavorado, arranhado de tanto topar com galhos espinhosos. E claramente de bunda suja.Ao olhar em volta, observou que os demais também estão embarrados. Os chefes desconsolados e envergonhados se reuniram com seus guerreiros e decidiram que todos os membros da tribo iriam tomar o veneno cicuta. A covardia fora demais. Antes que pegasse o apelido de cagão-cagão, a tribo Din-Din seria exterminada. E assim foi.

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