segunda-feira, 31 de outubro de 2016

TRÁGICO

Início da tarde. Casarão de cor amarela e janelas marrons na esquina, telhas de barro e um parreiral ao lado. No ar o cheiro de pastéis, sonhos e outras guloseimas. Era o trabalho de dona Adriana, preparar quitutes para o filho vender nas ruas da pequena cidade. O dia estava claro, sem nuvens. Mandou o filho Paulo até o armazém do Alemão para comprar açúcar. O garoto de 14 anos correu para sua Monark e saiu em disparada, feliz cheio de assovios. Gostava de pedalar pelas ruas sufocadas pela poeira e raros automóveis. Fui recebido na porta do pequeno comércio pelo seu Genoíno, sempre pronto para brincadeiras com a garotada. O garoto comprou açúcar e ganhou uma bala de hortelã do gentil alemão, que também mandou lembranças para sua dedicada mãe. Saiu Paulo montado em sua Monark em ziguezague pela rua deserta, como uma víbora fugindo do calor nas areias escaldantes do deserto. Assim o bom menino chegou ao cruzamento sem parar, cabeça criança nas nuvens, só coisas boas no pensar, sem noção do perigo; então o baque, o corpo caído, o utilitário parado e o jovem motorista em estado de choque. Do alto da rua desceu uma mãe correndo e gritando em desespero, descalça e mãos na cabeça. Uma dor que ninguém pode medir, somente ela. O corpinho inerte foi levado ao hospital em vão. Um menininho de seis anos da casa em frente que viu tudo, fechou a porta da sala e foi para o quarto chorar baixinho.

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