domingo, 21 de agosto de 2016

UTOPIA IGUALITÁRIA E ESPÍRITO OLÍMPICO por Percival Puggina. Artigo publicado em 20.08.2016

Recebi há poucos dias pequeno texto em que o dono de possante motocicleta responde à exclamação feita por alguém: "Quantas pessoas poderiam ser alimentadas com o que foi gasto nessa máquina!". E o proprietário assim esclarece: "Olha, não saberia dizer-te quantas pessoas, mas foram muitas. Gente trabalhadora, que atua em vários níveis ao longo de uma cadeia produtiva e comercial que vai da mineração de cobre para os fios até a fabricação de caminhões para transportar tudo às concessionárias". Uma multidão, portanto. Apesar dessa evidência, prospera entre nós a ideia de que desigualdade expressa sempre algo ruim. No caso acima, por exemplo, presume-se que haverá mais bicicletas se menos motos puderem ser adquiridas.
 Estou a escrever sobre igualitarismo. Abordando o tema para diversos auditórios, encontro muita gente que se declara atraída pelo conceito de uma sociedade igualitária. Compraram de alguém a ideia de que os desníveis sociais são injustiças praticadas por quem tem contra quem não tem. No passo seguinte, olham para o Estado e pedem providências. Afinal, ele, o Estado, é o principal zelador do bem comum, certo? Cabe-lhe, então, fazer com que todos, no caso acima, tenham acesso ao mesmo tipo de bicicleta, tomando, para esse fim, algum dinheiro da óbvia fonte disponível: o dono da moto. A injustiça, porém, não é subproduto da prosperidade, mas produto de um Estado que toma para si 40% da renda nacional e serve, a quem mais precisa, a pior escola, o pior ensino, o pior sistema de saúde e saneamento, o mais degradante paternalismo e, claro, nenhuma oportunidade.
 Não se cobrem mais exemplos à História! Sociedades igualitárias são, sempre, construções de uma abonada elite totalitária e a experiência dos povos já fez o que pode para certificar quanto é ruinoso e funesto o igualitarismo. Mesmo assim, esse estrupício ideológico prosperou e causa severos danos ao desenvolvimento econômico e social, aos serviços públicos, ao sistema de ensino e à cultura nacional. Nem nosso desempenho esportivo escapa! Como poderia o Brasil se tornar potência esportiva se aqui se desestimula o mérito e a desigualdade é malvista, se o espírito competitivo é refugado e se a individualidade deve ser coibida? Pergunte a uma turma de alunos algo que há 60 anos teria resposta certa: quem é o mais rápido nas corridas, ou o que pula mais longe, ou o que salta maior altura? Fora raríssimas exceções, essas indagações não terão resposta porque a competição é desestimulada no espaço educacional! O mérito é objeto de indiferença, causa de desconforto. E a palavra meritocracia suscita extremado antagonismo.
 Todos os resultados incontornáveis dessa utopia se resumem em alguma forma de mediocridade. Quando o mérito, em vez de receber nota 10, ganha zero, expulso do espaço pedagógico, o teto bate em cinco e começa a cair. O aluno estudará "o suficiente para passar", assistirá o número exato de aulas que lhe permitam comparecer às provas, limitará seus esforços ao mínimo necessário, contido ao mínimo que lhe consiga transmitir o professor. Soou como algo conhecido? Será então o diploma e não o conhecimento, o emprego e não o empreendimento, o salário e não o trabalho, o consumo e não a poupança.
 São muitos os freios e entraves que constrangem nosso desempenho econômico e social, gerando situações que ferem a dignidade humana e, por isso, devem ser rejeitados e atacados. Mas nenhum supera em capacidade destrutiva o ato de assumir o igualitarismo como objetivo. Ele se associa, obviamente, a uma visão de sociedade espremida entre o marxismo-leninismo e seu genérico mais simpático, o socialismo, que vai para o mesmo lugar montado numa pombinha branca com uma rosa vermelha na mão esquerda.
 

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