segunda-feira, 18 de abril de 2016

HITLER, O PT E AS SEREIAS PROBLEMATIZADORAS por Mateus Colombo Mendes. Artigo publicado em 16.04.2016 -PARTE 1

(Publicado originalmente em http://colombomendes.blogspot.com.br/)
Se tem algo que sempre me impressionou, que não cessa de me causar assombro (e, decerto, impressiona e assombra a qualquer um que pense no assunto), é o fato de nações inteiras[1] se prostrarem perante evidentes psicopatas e seguir-lhes cegamente. Como pode uma Alemanha inteira seguir um lunático como Hitler, aceitando que é preciso eliminar todo o resto do mundo, segundo um critério biológico? Como pode uma Rússia inteira seguir um lunático como Lenin, aceitando que é preciso eliminar todo o resto do mundo, segundo um critério social? Como pode, em ambos os casos, pai se voltar contra filho, filho denunciar mãe, mãe entregar marido, todos renunciarem à vida, à liberdade, à capacidade de discernimento e decisão, tudo para a força estatal e pela força estatal?
Em Hitler e os alemães, o filósofo Eric Voegelin, estudioso e inimigo declarado das ideologias, explica que as condições à aceitação do “führer” foram criadas por um processo de deterioração da linguagem, dos conceitos, das formas de estabilizar as percepções da realidade, a partir de concepções materialistas e pseudocientíficas, capazes de embrutecer as gentes e instaurar o reino da mesquinharia na nação. Os capitães desse processo foram os jornalistas e os intelectuais; ou melhor, cada jornalista e cada intelectual alemão de então, porque Voegelin não os aponta como categorias, grupos abstratos, mas como indivíduos específicos (de fato, culpar a todos, coletivamente, seria o mesmo que culpar a ninguém).
O resumo que ofereço no parágrafo acima decerto não dá a dimensão da excelência da obra de Voegelin, mas oferece uma pista para entendermos de que forma é possível a obtenção de sucesso pelos fenômenos fascistas, como o nazismo e o socialismo. Entretanto, mesmo compreendendo Voegelin e sua análise sem par, tais fenômenos não deixavam de me impressionar. As explicações do filósofo alemão jogavam forte luz sobre o problema; mas a luminosidade voegeliana era ofuscada logo em seguida pelo assombro que me causava a contemplação das histórias e das imagens legadas pelo nazismo e pelo comunismo (ainda que estas confirmassem perfeitamente as teses de Voegelin). Contudo, minha perplexidade acabou, graças ao petismo.
Contemple a imagem abaixo. Vemos um pequeno grupo bloqueando uma rodovia. São 28 pessoas a bloquear um lado de uma estrada, interrompendo o trânsito e atrapalhando o dia de milhares de pessoas – com pneus queimados e sua própria presença na via. Considerando a fumaça na extremidade direita da fotografia e o fato de o outro lado da rodovia estar vazio, concluímos que há lá outro pequeno grupo a obstruir a passagem de outros milhares de pessoas. A imagem é de 15 de abril de 2016, sexta-feira, dois dias antes da votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Imagens semelhantes a essa surgiram por todo o Brasil, sempre com pequenos grupos de militantes pagos e treinados por PT, PC do B, PSOL, CUT, MST e outras associações de esquerda parando estradas e grandes cidades, em um dia útil, em horário de expediente.



Essa imagem poderia estar no livro de Eric Voegelin, acompanhada de notícias de jornais e análises acadêmicas seu contexto. Voegelin diria: “Vemos na imagem e em suas repercussões jornalísticas e acadêmicas exemplos perfeitos de distorções da realidade estabilizadas na linguagem, condições indispensáveis ao surgimento de fenômenos como Adolf Hitler e o nazismo.” Pois, o que a imagem mostra objetivamente e representa na conjuntura atual são pequenos grupos improdutivos atrapalhando a vida de milhões de brasileiros, de forma violenta e intransigente, a mando e a soldo de uma elite política e econômica, defendendo a permanência dessa elite no poder, a despeito da vontade da imensa maioria da população, ignorando o desejo do povo brasileiro – tudo isso sob o subterfúgio da defesa da “democracia”, da soberania do... povo. Ou seja, são empregados da elite atrapalhando a vida do povo, defendendo a elite e contrariando o povo, dizendo que assim procedem em favor do povo.
Não, eles não são hipócritas; ao contrário: são absolutamente coerentes. Eles têm certeza de que defendem o povo de si mesmo, de sua ignorância. Por isso sentem-se grandes democratas, verdadeiros justiceiros, indispensáveis libertadores. Contudo, nada mais são, em verdade, que o resultado da deterioração da percepção da realidade oferecida pela intelectualidade e sedimentada pelo jornalismo; são, enfim, condições vivas à ascensão ao poder de figuras autoritárias, opressoras e psicóticas, com perigosos projetos de concentração de poder. Vejam como isso está escancarado na linguagem das faixas, em sua semântica, em sua retórica. Percebam a inversão dos predicáveis: o anseio do povo brasileiro é chamado de “golpe”; a manutenção do poder de uma elite corrupta e corruptora é chamada de “democracia”; e os termos são articulados de forma imperativa, inflexível, imposta, em um cenário de belicosidade, com direito a pneus queimados, bandeira vermelha, direito de ir e vir cerceado e punhos cerrados. É como se dissessem: “Não adianta vocês reclamarem, vocês não podem sequer locomover-se sem nossa autorização. E isso que vocês querem, não terão; imperará o que nós queremos.”
Não ignoremos que a ação vista na imagem pode ser lícita, justa, necessária. Em um contexto de real opressão, é legítimo que o povo se levante, normalmente, aos poucos, em pequenas minorias, para combater a repressão estatal, causando incômodo na maioria silente. Mas sabemos que não é o caso brasileiro. Aqui, temos o absurdo de um protesto a favor, com uma minoria favorecida defendendo uma minoria poderosa e ignorando os anseios da quase totalidade da nação.
As condições para os atuais absurdos brasileiros, representados pela fotografia acima, são semelhantes aos absurdos que permitiram a tomada e a manutenção do poder por fascistas, nazistas e comunistas – e foram igualmente gestados no ventre do jornalismo e do intelectualismo local. Há décadas, intelectuais formam e orientam e se associam a grupos como o da fotografia. Há décadas, jornalistas legitimam esses grupos, chamando-os de movimentos sociais. Esses movimentos sociais sustentam bandeiras que todo o restante da sociedade abomina: da prática corriqueira do aborto à expropriação violenta de rendas e propriedades, passando pela legalização de drogas entorpecentes e pelo desarmamento de civis. Ou seja, esses movimentos são qualquer coisa, menos sociais. Esses grupos se identificam como movimentos democráticos, a favor do povo e contra as elites, mas têm ditaduras como modelos de poder e defendem políticos que enriqueceram de forma impressionante desde que assumiram o governo. Esses grupos chamam seus inimigos de “fascistas”, mas exigem a estatização de todas as forças produtivas e o controle e o juízo estatal sobre as relações sociais, exatamente como propugna o ideário fascista. Enfim, esses grupos não percebem tampouco descrevem a realidade como ela é, com os termos apropriados; ao contrário, utilizam-se dos termos para alterar a realidade, para re-significá-la. Olham para si mesmos, uma minoria truculenta e defensora da elite, e, em vez de descreverem-se com os termos corretos, descrevem-se com os termos que imaginam merecer, projetando no restolho uma miríade de rótulos descolados da realidade. São, então, os democratas, os progressistas, os trabalhadores, os engajados, os iluminados. Nós, que não concordamos com eles, somos os fascistas, os alienados, os golpistas.

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