segunda-feira, 18 de abril de 2016

Artigo, Marcelo Aiquel - Nem todo imbecil é hipócrita. Mas todo hipócrita é um imbecil.

Começo este artigo repetindo a frase acima, escrita e publicada por mim num texto datado de 30 de dezembro de 2015. Porque ela espelha o que assisti ontem, na sessão da Câmara Federal que votou (e aprovou) a instauração de um processo de Impeachment contra a presidente Dilma.

Acompanhei todos os discursos e votos dos deputados. Entre surpreso e horrorizado, senti vergonha do quilate das pessoas que o povo escolheu para representa-los na casa legislativa do nosso país.
Vou me esforçar para não citar nomes, se bem que será uma tarefa impossível evitar algumas identificações particulares em uma análise sobre o “show” que fomos obrigados a assistir. Obrigados não! Melhor seria ter ido ao cinema. Ou ler um bom livro. Mas, como cidadão e eleitor preocupado com a minha nação, preferi sacrificar o meu domingo para constatar algumas verdades.

Por exemplo, ver com os próprios olhos, uma avalanche de hipocrisias vomitadas sem nenhum pudor, por pessoas que desconhecem o significado de coerência.
Deixem-me dizer inicialmente(e quem convive mais intimamente comigo soube com antecedência) que a minha previsão sobre o resultado praticamente “bateu”. Enquanto eu dizia que seriam 370 votos favoráveis à abertura do processo, estes somaram 367. Foi, portanto, menos de 1% (UM POR CENTO) de erro. Plenamente justificáveis eis que não tenho absolutamente nenhuma intimidade com o poder ou com as pessoas que circulam pelas galerias da Câmara Federal.

Parte deste meu erro também pode ser creditada à enorme surpresa de alguns votos como o (ou da falta de) do deputado gaúcho Pompeo de Matos. Um “bagual” que não desceu do muro, renegando as tradições do gauchismo que tanto se jacta e manchando as bombachas que gosta de vestir. Ele deve ter tido lá os seus motivos. Só que estes não combinam com a postura que o fundador do seu partido ensinou ao Brasil.

Voltando ao “show de horrores” e falando sobre postura, não posso deixar de nominar o caricato deputado carioca, egresso do BBB (uma mancha indelével em qualquer currículo), Jean Wyllys, aquela “perua” que surgiu frente às câmeras com um cachecol vermelho para votar e dar um recado final mais propício à conversa do cafezinho num salão de beleza do que ao momento solene que participava. O mesmo que foi flagrado dando uma cusparada em direção a um colega deputado certamente acompanhada da frase “vou te afogar, nojento...”. Como um desqualificado que é, já correu para proteger-se do ato indecoroso que praticou alegando ter sido ofendido pelo “bandido homofóbico”. Ai, que saudades do tempo ...

Bom, mas eu falava da avalanche de hipocrisia, e nela pretendo me deter:
Escutei diversos discursos de representantes das ideologias socialista e comunista referindo-se à democracia.
Será que ninguém vai lhes dizer que democracia é um regime político que não tem vez nas cartilhas socialista e comunista?

Querer cruzá-los é o mesmo que tentar fazer com que um rinoceronte engravide uma cobra.
A outra grande hipocrisia ouvida ontem foi com relação às ofensas – graves e raivosas, ditas com flagrante animus injuriandi – endereçadas ao presidente da mesa que coordenava a votação. Ora, se ele, por mais culpado que possa vir a ser – sim vir a ser, pois ainda não foi julgado e condenado, única situação jurídica que pode afrontar ao princípio constitucional da presunção de inocência– não era objeto, nem matéria, da sessão, qual a justificativa plausível para defender a manutenção da presidente denunciada, acusando a outrem?

Soa o mesmo que um advogado, para salvar seu cliente da acusação de tráfico de drogas, passe a acusar o Fernandinho Beira Mar do mesmo crime, quando este não é parte do processo.
Sem contar que, com poucas exceções, a fidalguia exigida a um membro da nossa Câmara de Deputados passou longe do comportamento utilizado na sessão. Como se estivessem em uma arquibancada do Maracanã, a grande maioria não teve a postura de parlamentar e comportou-se como um integrante de torcidas organizadas em dia de clássico.

Berros e gritos, com forte teor de histeria e descontrole emocional, foi uma constante nos espíritos “armados” dos Deputados e Deputadas.
Educação, nem se fala. Sem pretender ser elitista, o que vimos de mulheres “barraqueiras” ontem foi assustador.
Assustador porque demos “tchau” para a Dilma, mandamos o PT de volta ao seu lugar, mas, e o Congresso? Seguiremos reféns deste tipo de gente?
Pobre Brasil!
Seguirá com os incompetentes e os hipócritas de várias origens...



Marcelo Aiquel – advogado (18/04/2016)

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