sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Você pode substituir a Bela Gil pela Preta Gil, por exemplo? Por Diego Reis

bela gil preta gil
Mesmo não acompanhando o dia a dia dessas duas “estrelas” nacionais, você já deve ter notado a enorme diferença entre as filhas do cantor e ex-ministro da cultura petista Gilberto Gil, pelo menos na questão da alimentação. Ao analisar um pouco da história de ambas você perceberá o quanto o protagonismo do pai influenciou na trajetória das duas.
Não sou um profundo conhecedor da biografia da família Gil, mas, pelo pouco que tive contato, já foi possível refletir sobre pontos surpreendentes. A cantora Preta Gil sempre deixou claro que nunca gostou de fazer dieta e que sua aparência voluptuosa se deve a seu prazer por ingerir alimentos gostosos, porém calóricos. Mais do que isso, ela afirmou que o fato de ter um pai seguidor de uma dieta rígida e macrobiótica teve um impacto significativo na sua relação com os alimentos. É possível imaginar o sentimento de libertação da cantora quando trocou soja fermentada por uma barra de chocolate ou por um sorvete napolitano. Enquanto isso, a outra filha do cantor baiano trilhou um caminho diferente ao da irmã quando decidiu estudar sobre nutrição Ayurvédica em Nova York e Nutrição e Ciência dos Alimentos na Hunter College.
No ano de 2013, Bela Gil estreou o programa “Bela Cozinha” no canal a cabo GNT – integrante do Grupo Globo. Adquiriu certa visibilidade por sugerir alimentos “alternativos” e utilizar uma linguagem técnica para explicar, por exemplo, que é possível substituir qualquer snack industrializado, que a maioria das crianças adora, pelo nada atraente Nori chips – um salgadinho de alga com gergelim e sal marinho. Segundo a apresentadora, os Nori chips contém reduzido teor de sódio de onde podemos deduzir que não fará com que as crianças morram do coração.
Com o passar do tempo, a patrulha pela chamada “alimentação alternativa” e a perseguição aos alimentos considerados “venenosos” como refrigerantes, doces e frituras fez com que a apresentadora dividisse a opinião pública entre os defensores e adeptos desse “estilo de vida” e aqueles – com bom senso – que passaram a se divertir na Internet com os memes criados a partir das sugestões bizarras de Bela Gil. Alias, são tantos memes que necessitaria de um artigo dividido em várias partes para dar conta de tudo.
Entre os momentos mais polêmicos está aquele em que ela sugere que se substitua o tradicional creme dental por cúrcuma ou, que se use óleo de gergelim na higiene íntima das crianças (gergelim parece ser o coringa dos esquerdistas, você, como a maioria das pessoas deve preferir as sementes em cima do pão macio de um suculento hambúrguer acompanhado de bacon e batata frita).
Ironias a parte, o fato é que ninguém pode afirmar que Bela Gil não seja bem intencionada ao sugerir que as pessoas mudem seus hábitos alimentares se essas pessoas acreditarem que eles são responsáveis por seus problemas físicos ou emocionais. Ela também é livre para tentar convencer você a substituir um quilo de farinha de trigo, que custa cerca de R$ 2,60, por algo “similar” elaborada a partir de uma raiz rara descoberta por uma tribo pouco vista em uma região inóspita da Amazônia, mas que é vendido por um antropólogo indigenista na internet. Que, como era de se esperar, jura “valer a pena” por não conter glúten pelo preço módico de R$ 85,00. Gostaria de saber quando o glúten virou um vilão da humanidade mais odiado que Lula e Dilma? Parece que a razão é o fato de ele poder provocar inflamações intestinais terríveis não somente em quem possui Doença celíaca, mas em toda a humanidade, a mesma, aliás, que consome pão desde a antiga Mesopotâmia, há cerca de 6000 anos.
Acredito que no fundo do coração de Bela Gil deve existir um desejo de mudar o mundo e a vontade de que todos passem a comer mandioquinha, jiló e ghee com a mesma voracidade que você devora uma coxinha naquela padaria lotada em frente a sua casa.  Felizmente também temos a liberdade para decidir por não assistir ou ler os livros dela e ir comer aquele belo pedaço de bolo de chocolate repleto de glúten, lactose, gorduras saturadas, radicais livres, oxidantes e sabe Deus o que mais vão odiar no futuro. Se Bela Gil tornou-se uma formadora de opinião e pode falar o que quiser em seu programa, também somos livres para rebatê-la principalmente quando diz algo potencialmente perigoso para nossa liberdade individual.
Recentemente na versão de verão de seu programa de culinária, a ”militante” decidiu mostrar que também é “politicamente engajada” e falou uma pérola inquietante para qualquer liberal, após ser trollada pela atriz Fernanda Paes Leme convidada do programa e amante confessa de leite condensado.  Fernanda teve de experimentar um creme chantilly (fake) feito de gordura de coco enquanto ouvia passivamente de Bela Gil que o açúcar é um grande problema de saúde pública e, pasmem, que a solução seria a criação de regulamentações mais rígidas para restringir o consumo desta substância. Pois é, parece que é um consenso entre os esquerdistas que a população deve ser infantilizada e precisa de um Estado tutor dizendo até mesmo o que ela deve comer.  A opinião autoritária da “nutricionista” lembrou-me da regulamentação de lei que proíbe sal em mesas de restaurantes no Espírito Santo. A lei estadual nº 10.369/2015 penaliza os estabelecimentos que descumprirem a determinação com multas de até R$ 1.343,00. Além disso, o dinheiro do cidadão pagador de impostos será usado para pagar os vigilantes sanitários nos municípios. Isso mesmo! Depois dos Fiscais do Sarney a população capixaba terá que conviver com os Fiscais do Sódio. Obviamente que parte da população reagiu a esse absurdo com irritação e também bom humor, como no caso de alguns donos de restaurantes que colocaram os sachês de sal em uma espécie de varal alegando que a lei proíbe a exposição do sal na mesa e balcões, mas não diz nada sobre o teto.
Certamente a opinião de Bela Gil sobre alimentos açucarados não surgiu de sua cabeça criativa, mas está inserida em um contexto mais amplo, ou seja, ela é frequentemente proferida  por grupos esquerdistas que defendem o poder coercitivo do Estado e acreditam que no passado vivíamos melhor como camponeses adeptos à agricultura familiar.  Ignoram o fato de que foi graças a iniciativa privada e ao capitalismo que passamos a produzir mais alimentos e reduzir a pobreza extrema que atualmente é inferior à 10% da população. Devemos também ao capitalismo e a livre iniciativa o investimento em medicamentos, ciência e tecnologia que possibilitaram uma vida mais longa e confortável para gerações de indivíduos. Meu conselho neste contexto é o seguinte: quando você ouvir alguém pedindo a intervenção estatal (criação de leis, regulamentação) e acionar o discurso do passado camponês romântico sugira para essa pessoa ir viver em alguma ilha precária (Cuba?) ou passar no mínimo uma semana sem energia elétrica, ar condicionado, Internet, remédios, hospitais como na série “Largados e Pelados”.
Quanto à eleição dos vilões nutricionais que no passado eram chamados de “refinados brancos” e, hoje, “evoluíram” por glicose, glúten, lactose, sódio, conservantes, aromatizantes, espessantes meu conselho é simples: gente relaxa! A maioria das pessoas já entendeu que qualquer substância quando ingerida em grandes quantidades pode se tornar nociva para a saúde, até mesmo água. Ao invés de reivindicarmos por mais leis e regulamentação temos que exigir que nos deixem em paz e livres para comer um churrasco ou feijoada com amigos no final de semana pelo simples fato de apreciarmos o sabor.
Respondendo a pergunta título deste artigo: não é possível substituir Bela Gil por Preta Gil, já que ambas são indivíduos com personalidades e interesses diversos, mesmo tendo sofrido a influência do pai. Mas se um dia você decidir convidar alguma delas para jantar prefira a segunda, pois seu bom humor e espontaneidade são preferíveis à patrulha ideológico-gastronômica da irmã.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.