quarta-feira, 4 de março de 2015

João Cesar de Melo-Socialista Morena, minha perversão

Socialista Morena, minha perversão

filtro de barro
Venho confessar uma perversão: eu acompanho o blog Socialista Morena! Eu li uma vez e ri. Li outra vez e gargalhei. Desde então, não consigo mais me libertar desse prazer. Lendo seus textos, eu sempre me lembro do programa Alienígenas do Passado. É quase a mesma coisa. Os delírios, as distorções da realidade, as leituras tendenciosas da história, a convicção nas teorias mais malucas e, claro, aquela velha soberba intelectual. “Eu sou uma pessoa honesta! Acredite!”, imagino a autora gritando diante do espelho.
Cynara Menezes (responsável pelo blog) tenta nos mostrar o caminho da paz e da prosperidade por meio dos ensinamentos socialistas. Giorgios Tsoukalos (apresentador do programa Alienígenas do Passado) tenta nos mostrar o caminho da paz e da prosperidade por meio dos ensinamentos extraterrestres. Diferem entre si apenas na apresentação. Ele atua. Ela é ela mesma. “Este é um blog de ideias e notícias com viés esquerdista. Socialista, comunista & bolivariano”, se apresenta, cheia de orgulho. Cynara é mais honesta e muito mais engraçada do que Giorgios. Além de confessar o que realmente é, Socialista Morena (a graça já começa no nome) nos brinda com um talento notável para criar conteúdo a partir do nada.
Dias atrás, ela publicou um texto denunciando a conspiração capitalista internacional para destruir o gosto popular pelos… filtros de barro! Socialista Morena escreveu: “Uma das maiores sacanagens do capitalismo, em minha opinião, é criar necessidades” − Maldito capitalismo que criou nossa necessidade de creme dental, analgésicos, eletricidade, computador e telefone celular!
Fiquei tentado a comentar, mas me lembrei que seu blog não aceita comentários. Num exercício de levá-la a sério, eu lhe diria: “Socialista Morena, o capitalismo não cria necessidades. O capitalismo oferece alternativas para demandas que já existem”. Antes dela ler e responder, muitos de seus discípulos já teriam me condenado ao paredón em comentários nada elegantes, para meu sarcástico deleite.
Mais adiante no texto sobre o filtro de barro, Socialista Morena justifica: “…a partir da década de 1990, fomos convencidos do contrário: que o filtro de barro era ineficiente e até mesmo ‘cafona’, e que a melhor água para o consumo humano é a engarrafada, pela qual desde então pagamos dinheiro, em vez de utilizar a que vem da torneira, pela qual também pagamos, e 2 mil vezes mais barato”, justifica.
1° – Os socialistas, aqueles que vivem tentando nos convencer sobre um monte de absurdos, realmente enlouquecem quando alguma empresa ou setor nos “convence” a utilizar certo produto ou serviço. Só eles, socialistas, podem nos convencer de alguma coisa, pois só eles têm a sabedoria e a iluminação espiritual.
2° – Socialista Morena parece desconhecer que a maioria das casas NÃO utiliza garrafões de água mineral, mas sim filtros acoplados nas torneiras ou pequenos filtros pendurados na parede.
3° – Socialista Morena (sim, eu adoro repetir esse nome) tenta nos fazer crer que o filtro de barro por si mesmo filtra qualquer água suja que adentre seu interior, que deve ter origem socialista.
Socialista Morena prossegue afirmando que caímos num “truque” capitalista liderado pela Nestlé, que lucra bilhões por ano apenas (apenas!) retirando água do solo. A socialista-comunista-bolivariana também nos brinda com um valioso histórico da fabricação dos filtros de barro no Brasil, enaltecendo uma empresa que venceu a competição pela preferência dos consumidores − olha Mises aí gente! − e que desde a década de 1980 vinha praticamente como a única fabricante do produto. Socialista Morena chega a ilustrar seu texto com a imagem de um cartaz publicitário da empresa!
Depois de suspirar de amor pelo filtro, ela lamenta que ele tenha perdido mercado para a água engarrafada – insistindo que a grande maioria da população brasileira consome aqueles galões de 20 litros −, mas volta a demonstrar satisfação ao ver esta empresa privada se reerguendo por meio de exportações para 48 países. “8 deles na África”, faz questão de salientar.
Socialista Morena continua sua saga contra o capitalismo focalizando a grande conspiração da Nestle para transformar todos os habitantes da galáxia em vorazes consumidores de água engarrafada. “É chocante ver como o chairman da Nestlé, o austríaco Peter Brabeck-Lemathe, fala com jeito de galã e voz melíflua sobre a ‘importância’ da água para o planeta como se fosse um ambientalista, enquanto a empresa explora o líquido para gerar lucro”, denuncia.
(Pausa para gargalhadas)
Algumas perguntas que eu gostaria de fazer a Socialista Morena:
1° –  A fabricante do filtro de barro não visa lucro?
2° – A água que alimentaria os filtros de barro viria de onde? De marte?
3° – Se algum dia a humanidade seguir seus conselhos e decidir consumir apenas filtros de barro, toda essa argila viria de onde? Do seu quintal revolucionário?
4° – Se algum dia a tal fabricante de filtros de barro convencer os consumidores sobre a qualidade de seu produto, conquistando, portanto, o controle do mercado, você escreverá um texto denunciando-a?
5° – Já parou para pensar nos pequenos fabricantes de filtros de barro dos países africanos que são prejudicados pela “invasão” dos filtros da fabricante brasileira?
6° – Você, sendo uma digna socialista-comunista-bolivariana, não deveria cobrar que os governos dos países que hoje importam filtros brasileiros criem subsídios para os fabricantes locais, preservando empregos e o mais importante, as tradições locais?
7° – Que espécie de socialista-comunista-bolivariana é você que fica pregando o sucesso de uma empresa privada?
Marina Morena… Ops, foi mal! Confundi. Socialista Morena, sua sorte é viver no colo do capitalismo, o sistema que lhe possibilita ganhar dinheiro escrevendo tanta besteira. Continuarei acompanhando seu blog porque realmente é muito divertido.
Algumas pessoas veem novela e Big Brother. Outras assistem Faustão e Globo Esporte. Eu vejo Alienígenas do Passado e acompanho Socialista Morena.
Arquiteto, artista plástico e escritor. Escreveu o livro “Natureza Capital”.

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