sábado, 24 de outubro de 2015

Portal Libertarianismo- Cobrar mensalidades nas faculdades é uma questão moral

A educação superior pode ser um caminho para uma vida bem-sucedida. Ainda assim, muitas pessoas bem-sucedidas não se formaram na faculdade e muitas pessoas malsucedidas têm notas surpreendentemente boas.
Então, quem deveria ir para a faculdade? E quem deveria pagar por isso? Vamos começar por imaginar um estudante mediano que deseja ir para a faculdade, mas não tem dinheiro. Compare as opções daquele estudante em dois sistemas educacionais (a) estatal e o (b) privado, de livre mercado.
Em um sistema estatal, o governo paga a mensalidade. O estudante eventualmente termina seus estudos, arranja um emprego e começa a pagar impostos.
Para estudar, em um sistema de livre mercado, o estudante opta por uma combinação de trabalho, doações, bolsas e empréstimos de amigos, familiares e bancos.  O estudante eventualmente termina seus estudos, arranja um emprego e começa a pagar os empréstimos feitos.
Então, qual é a diferença?
Em ambos os sistemas, o estudante paga os custos de sua educação – no sistema estatal, por meio de impostos pagos ao longo de sua vida; no sistema de livre mercado, por meio do pagamento dos empréstimos pelo dinheiro obtido via trabalho.
Contudo, existem, pelo menos, cinco diferenças, todas as quais dizem respeito à moralidade.
  • Capitalismo de risco: do ponto de vista econômico, a educação nada mais é que o desenvolvimento de capital humano. Quem está mais capacitado a julgar qual estudante potencial é um bom investimento – o sistema público e seus burocratas, ou o sistema de livre mercado e os membros das famílias, os credores de empréstimos e os próprios estudantes? Nós também deveríamos perguntar (questionar), sob qual sistema, quantas mais ou menos pessoas frequentarão a faculdade e quantos mais ou menos pessoas lá terão sucesso? Neste ponto, precisamos fazer alguns cálculos delicados sobre os tipos de estudantes que vão para a faculdade. Um tipo: aqueles que não irão para a faculdade se tiverem que trabalhar e poupar antes para tal ou pedir dinheiro emprestado de seus familiares ou mesmo empréstimos bancários – mas que teriam alcançado maior sucesso na vida se tivessem ido para a faculdade. Outro tipo: aqueles que irão para a faculdade porque é paga pelo governo e “gratuita”, mas então perderão seu tempo e o dinheiro de todos – e que teriam se dado melhor se tivessem ido diretamente para o mercado de trabalho. Em cada sistema, qual a probabilidade de termos cada tipo de estudante?
  • Despesas e controles: Será provável que um governo ou a administração de um banco seja mais eficiente? Qual sistema tende a desenvolver burocracias inchadas que encobre uma grande proporção de dinheiro para cobrir despesas? E qual tende a monitorar a eficiência de longo prazo do dinheiro investido em educação, sendo responsivo frente aos dados?
  • Resultados da educação: faculdades e universidades entregarão um ensino de melhor qualidade se o seu financiamento depender da satisfação dos estudantes que também são seus financiadores (clientes) – ou se o seu financiamento advir de governos e, assim, depende da satisfação de critérios estabelecidos pelos oficiais do governo?
Responder as perguntas acima requer um duro trabalho de análise econômico-social. Todo este trabalho é moralmente importante, dado que, se desejamos ser engenheiros sociais da educação – como a maioria dos oficiais públicos se consideram – e estamos criando políticas públicas que afetam centenas de milhares de pessoas e gastam bilhões de seus dólares, então nossa responsabilidade financeira requer que nos engajamos naquele duro trabalho.
Infelizmente, a triste verdade é que, na maioria das vezes, a política de financiamento educacional é decidida por aqueles que não têm a mínima ideia de como responder tais perguntasIsto significa que eles estão decidindo por outros métodos, métodos que nos levam diretamente à filosofia moral.
  • A responsabilidade moral pela educação. Quando você chega à idade adultavocê é responsável pelo seu sustento, incluindo que tipo de educação superior você cursará? Ou: todos nós somos coletivamente responsáveis pelas necessidades e objetivos de vida uns dos outros?
Muitas discussões sobre o financiamento educacional estão diretamente ligadas à questão do que “a sociedade” necessita. Precisamos de mais humanistas ou técnicos em eletrônica – ou mais historiadores e economistas – ou mais técnicos de enfermagem, agentes de viagem ou mesmo cinegrafistas?
Se pensarmos que é uma decisão “da sociedade como um todo”, então esperaremos que nossos representantes no governo desenvolvam políticas para encorajar os jovens a optarem por algumas profissões, desencorajando-os a perseguir outras. Da mesma forma, esperaremos então que recursos sejam direcionados para os cursos preferidos pelo governo, enquanto outros serão desconsiderados.
Ou seria uma decisão minha tornar-me médico, um especialista em explosivos em alto-mar, ou mesmo ser gerente de um mercado? Se pensarmos que é uma decisão individual, então encorajaremos os indivíduos a perseguirem seus próprios caminhosde acordo com seus sonhos e sua análise do mercado de trabalho. Esperaremos, também, que busquem uma forma de pagar por isso.
O que nos leva ao quinto elemento moral:
  • Métodos morais de pagamento: Os métodos privados de financiamento da educação – trabalho, bolsas e empréstimos bancários – são todos voluntários. Por outro lado, o financiamento governamental é compulsório.
Suponha que Jerome está estudando filosofia em uma universidade no estado de New England. E suponha que Juanita receba US$ 100.000 por ano de seu negócio de paisagismo na Califórnia. Se a mensalidade de US$ 25.000,00 de Jerome é paga pelo governo, e Juanita é tributada em 25%, então estamos, em princípio e de fato, forçando Juanita a pagar pela educação de Jerome.
Às vezes, deixar o elemento compulsório explícito desperta uma tristeza melancólica nas pessoas –Bem, eu gostaria de não ter que usar a coerção governamental para financiar a educação superior, mas é a única forma realista. Nesse caso, segue a opinião, o fim realmente justifica os meios.
Mas a coerção é realmente o único – ou mesmo o melhor caminho?
Talvez nós pensamos que as instituições financeiras privadas não emprestariam para jovens estudantes pobres. Por que não iriam? Se a educação é realmente um bom investimento, então os dados mostrarão isso – e os jovens que são sinceros quanto à educação superior deveriam ser capazes de convencer os credores de seu potencial e vigor.
Ou talvez nós pensamos que uma sociedade rica não gerará contribuições filantrópicas suficientes para financiar bolsas e ONGs comprometidas com a educação superior. Existem somente dezenas de milhares delas, afinal.
Ou talvez nós pensamos que uma sociedade empresarial não pode encontrar formas de reduzir os custos de educação de qualidade, expandir o número de estudantes em bolsas atléticas (um mente sã é um corpo são é um objetivo educacional nobre), desenvolver opções que combinem estudo e trabalho, estágios, aprendizados e muito mais.
Ou talvez nós secretamente não pensamos muito sobre os jovens em idade de faculdade – nós realmente não acreditamos que eles sejam capazes de se virar com as tarefas inerentes à graduação.
Mas analisem com mais atenção: milhões de jovens têm a energia e desenvoltura para, por exemplo, abrir seus próprios negócios; começar bandas de rock e sair em turnê; alistar-se no exército e aprender a usar armas que podem matar pessoas; e encontrar uma forma de arrecadar fundos para viajar ao redor da Ásia e América do Sul por alguns anos.
Sim, vamos continuar a analisar as ciências sociais, comparando os resultados dos dois sistemas. Porém, da mesma forma, é importante dar crédito a nossos estudantes e a nós mesmos por sermos capazes de encontrar formas criativas e responsáveis para alcançar nossos elevados objetivos educacionais.
// Tradução de Matheus Pacini. Revisão de Ivanildo Santos III. | Artigo Original

Sobre o autor

Hicks-Stephen-2013
Stephen Hicks é professor de Filosofia na Rockford University em Illinois. Ele é o autor de "Explaining Postmodernism: Skepticism and Socialism from Rousseau to Foucault" (Scholargy Publishing, 2004). Ele pode ser contactado pelo seu we

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