A formação e o conhecimento são bens imateriais de que desfrutaremos sempre, até a nossa morte. E o que estamos dando as nossas crianças? Algumas sem pai, muitas sem pai nem mãe, outras com pais e mães que passam o dia fora de casa, trabalhando. Crianças que vão aprendendo com cuidadoras, vizinhos, outras crianças, ou em escolas impessoais, ou diante da TV ou da realidade cruel de comunidades dominadas pelo tráfico e o banditismo.
Crianças sem saúde física, subnutridas, mal-alimentadas, cercada por um meio insalubre de mosquitos, lixo, sujeira. Sem saúde física e sem formação cívica e familiar, o que esperar dessas gerações? No topo, longe da pobreza, crianças que vêem os pais estacionando na calçada, na contramão, invadindo sinal vermelho, bebendo e dirigindo. Crianças carregadas pela mão do avô ou da mãe atravessando faixa de pedestre com sinal fechado. Sem ver uma estante cheia de livros em casa. Crianças que não aprendem a necessidade da disciplina, de respeito às leis e aos outros, de ordem em suas roupas e brinquedos. Crianças que não aprendem que o valor das coisas é medido pelo trabalho para consegui-las.
Crianças que testemunham os mais velhos no descumprimento das leis e na corrupção. Que país é este que estamos preparando para eles? No Dia da Criança, o feriado nacional nem é para elas, mas para uma festa religiosa que exclui as demais religiões e inclui até os que não tem religião, no país que estabelece em sua Constituição que o estado é neutro em matéria religiosa, mas concede isenção de impostos para qualquer templo. No país que precisa de riqueza criada pelo trabalho, mas semeia feriados por qualquer motivo, inclusive sob o eufemismo de ponto facultativo. Como as crianças não vão entender este país, acabarão aderindo à bagunça geral e talvez a agravando. Não vão ganhar um bom futuro de presente.
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