segunda-feira, 14 de setembro de 2015
Caio Blinder-Trabalhistas britânicos cometem suicídio político
O que dizer sobre o Partido Trabalhista na Grã-Bretanha? É difícil ver um partido que trabalha tanto para não chegar ao poder. Com suas amarguras, o Brasil conhece intimamente a expressão “década perdida” (teremos mais uma). O paralelo pode ser feito com a decisão no sábado do Partido Trabalhista de eleger Jeremy Corbyn para liderá-lo.
Significa mais uma década perdida, mais uma década, ou mais, fora do poder, hoje nas mãos dos conservadores. O primeiro-ministro David Cameron não é lá grande coisa e ficará eternamente grato com a decisão da oposição.
Extremista de esquerda e deputado desde 1983, Corbyn é a vanguarda do atraso, com suas propostas de estatização de indústria, terceiro mundismo amoral em política externa e o desprezo por esforços de modernização do Partido Trabalhista empreendidos por Tony Blair. O ex-primeiro-ministro foi um político que soube conduzir o seu partido ao poder nos anos 90, assim como Bill Clinton nos EUA com os democratas. A enfática vitória de Corbyn mostra o desarranjo político na Europa e EUA, com os golpes contra o centrismo desferidos pela extrema esquerda e pelo nacionalismo xenofóbico de direita.
Para dar uma medida do atraso de Corbyn, aqui vai a histórinha emblemática. Corbyn foi eleito pela primeira vez para a Câmara dos Comuns em 1983. Naquele ano, a plataforma trabalhista pregava o desarmamento nuclear unilateral, a nacionalização da indústria e a proposta para que a ONU mediasse a disputa entre Grã-Bretanha e a Argentina sobre as ilhas Malvinas (Falklands). Na expressão memorável, a plataforma trabalhista foi descrita como a “mais longa nota de suicídio da história política”. Ao atrasar novamente o relógio em 2015, os trabalhistas economizam palavras na nota de suicídio. Ela agora contém apenas duas palavras: Jeremy Corbyn.
Nesta autodestruição, 60% dos eleitores que votaram na disputa interna dos trabalhistas deram a vitória para Corbyn. Ele é uma caricatura do radicalismo de esquerda. Corbyn endossou a “resistência” dos iraquianos contra as tropas lideradas pelos EUA de George W. Bush na invasão de 12 anos atrás (com o engajamento entusiasmado do então primeiro-ministro Blair) e apoiou os ataques contra tropas britânicas.
Corbyn se refere aos terroristas do Hamas e do Hezbollah como “amigos” e na pornografia política suprema, em 1984 ele saudou os terroristas do IRA (os extremistas da Irlanda do Norte) que tinham acabado de tentar assassinar a então primeira-ministra Margaret Thatcher. A visão geopolítica de Corbyn é categórica. Se os EUA vão para um lado, o mandamento é ir para o outro, não importa o contexto.
Um dos motivos do triunfo de Corbyn foi a facilidade das regras. Bastava qualquer gaiato pagar três libras (cinco dólares) e se registrar para votar na escolha do líder partidário. Foi o estouro da boiada anacrônica de esquerdistas ressentidos, com a ajuda de conservadores que investiram um punhado de libras para colaborar na autodestruição da oposição.
A vitória de Corbyn confirma a era do outsider, que investe contra os políticos tradicionais e a tal da corrupção das elites. Na Europa, estão aí o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras (extrema-esquerda) e demagogos de extrema-direita como o britânico Nigel Farage e a francesa Marine Le Pen. Nos EUA, é a era de Donald Trump e do veterano hippie socialista Bernie Sanders nas primárias dos republicanos e dos democratas.
Com Corbyn, o Partido Trabalhista está condenado a ser um movimento de protesto e não uma alternativa realista aos conservadores.
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