O físico do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) diz que o grande motor do desenvolvimento é a capacidade da sociedade de armazenar e processar o conhecimento
Expoente do exponencial Media Lab, um dos mais inovadores centros de estudos do conhecimento do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, o físico chileno César Hidalgo ganhou renome por traduzir em gráficos engenhosos grandes massas de informação. Seu campo de estudo é ainda mais amplo. Em 2009, em parceria com o economista venezuelano Ricardo Hausmann, de Harvard, ele pôs de pé um índice para medir a complexidade econômica. Isso o levou a uma empreitada ambiciosa. No recém-lançado “Why Information Grows” (Por que a informação aumenta), ele segue a trilha aberta por Robert Solow, ganhador do Nobel de Economia, para quem não há crescimento sustentável sem educação e conhecimento.
Veja: Quais são as consequências práticas de tentar entender os mecanismos do crescimento econômico pela ótica da tecnologia da informação?
César Hidalgo: O conceito de informação que utilizo não é o da linguagem cotidiana – aquilo que encontramos em uma página de jornal ou em um tuíte. Meu conceito vem da física, a disciplina em que me formei. Informação, nesse contexto, é um sinônimo aproximado de ordem, de estrutura. No mundo das coisas criadas pelo homem, tanto um cesto de vime quanto um carro movido a energia elétrica são portadores de informação. Eles são constituídos de tais e tais materiais, processados desta ou daquela maneira, construídos de certa forma. O que varia é a complexidade da informação. No carro elétrico, ela é muito maior que no cesto de vime. Por que alguns grupos humanos só são capazes de produzir cestos, enquanto outros são capazes de construir carros?
César Hidalgo: O conceito de informação que utilizo não é o da linguagem cotidiana – aquilo que encontramos em uma página de jornal ou em um tuíte. Meu conceito vem da física, a disciplina em que me formei. Informação, nesse contexto, é um sinônimo aproximado de ordem, de estrutura. No mundo das coisas criadas pelo homem, tanto um cesto de vime quanto um carro movido a energia elétrica são portadores de informação. Eles são constituídos de tais e tais materiais, processados desta ou daquela maneira, construídos de certa forma. O que varia é a complexidade da informação. No carro elétrico, ela é muito maior que no cesto de vime. Por que alguns grupos humanos só são capazes de produzir cestos, enquanto outros são capazes de construir carros?
Veja: Como um grupo do primeiro tipo pode se transformar em um do segundo?
Hidalgo: A forma de raciocínio que proponho lança luz sobre essas perguntas, ao desvelar como uma sociedade acumula e processa informação e como traduz isso em riqueza material. As economias mais pujantes são justamente as mais eficientes nesse campo. Dito de outra maneira, o crescimento de uma economia deriva do aumento da informação embutida nela.
Hidalgo: A forma de raciocínio que proponho lança luz sobre essas perguntas, ao desvelar como uma sociedade acumula e processa informação e como traduz isso em riqueza material. As economias mais pujantes são justamente as mais eficientes nesse campo. Dito de outra maneira, o crescimento de uma economia deriva do aumento da informação embutida nela.
Veja: Pode-se resumir tudo em melhorar a educação?
Hidalgo: Sim e não. Associar investimentos em educação a desenvolvimento é uma armadilha, porque a complexidade econômica requer mais que isso. Para um país se desenvolver, não basta ter gente educada. É preciso ter gente educada e capaz de trabalhar de maneira coordenada com outras pessoas e equipes. Voltando ao exemplo anterior, um cesto de vime pode ser feito por uma única pessoa. É um saber que se passa de pai para filho. A cadeia de conhecimento envolvida na criação de um carro elétrico é imensamente maior. Em meu livro, estudo os casos de Gana e Tailândia. Entre 1960 e 2010, Gana investiu mais em educação e alcançou um nível de escolaridade melhor que o da Tailândia. Mas a estrutura produtiva de Gana, ou seja, o que essas pessoas eram capazes de fazer quando se reuniam em equipe, não era de alta complexidade. Eram produtos muito simples, às vezes rudimentares. O esforço educacional em Gana não se traduziu em aumento de sua complexidade econômica. A Tailândia, apesar de ter uma média educacional mais baixa, cresceu muito mais rápido, porque outros elementos culturais favoreciam o trabalho em equipe, a combinação de conhecimento em cadeias produtivas e mercadorias finais muito mais complexas.
Hidalgo: Sim e não. Associar investimentos em educação a desenvolvimento é uma armadilha, porque a complexidade econômica requer mais que isso. Para um país se desenvolver, não basta ter gente educada. É preciso ter gente educada e capaz de trabalhar de maneira coordenada com outras pessoas e equipes. Voltando ao exemplo anterior, um cesto de vime pode ser feito por uma única pessoa. É um saber que se passa de pai para filho. A cadeia de conhecimento envolvida na criação de um carro elétrico é imensamente maior. Em meu livro, estudo os casos de Gana e Tailândia. Entre 1960 e 2010, Gana investiu mais em educação e alcançou um nível de escolaridade melhor que o da Tailândia. Mas a estrutura produtiva de Gana, ou seja, o que essas pessoas eram capazes de fazer quando se reuniam em equipe, não era de alta complexidade. Eram produtos muito simples, às vezes rudimentares. O esforço educacional em Gana não se traduziu em aumento de sua complexidade econômica. A Tailândia, apesar de ter uma média educacional mais baixa, cresceu muito mais rápido, porque outros elementos culturais favoreciam o trabalho em equipe, a combinação de conhecimento em cadeias produtivas e mercadorias finais muito mais complexas.
Veja: Em que circunstâncias o investimento educacional é mais produtivo?
Hidalgo: Um país não se desenvolve sem alguns pressupostos materiais, como um bom sistema de transporte e comunicações, e sem níveis mínimos de segurança pública, segurança jurídica e respeito aos contratos. Enfim, fatores que afetam a capacidade de criação e execução de pessoas trabalhando em grupo. O Brasil desenvolveu, nos últimos anos, políticas louváveis de redução da desigualdade e desenvolvimento social. Mas o melhor gestor da inclusão social não é o Estado. Os países onde a desigualdade é mais baixa são justamente aqueles em que o grau de complexidade econômica é mais alto. As economias de alta complexidade, ou seja, aquelas em que os fatores econômicos, educacionais e tecnológicos se entrelaçam em relações de interdependência e de subordinação, põem em funcionamento um círculo virtuoso altamente inclusivo.
Hidalgo: Um país não se desenvolve sem alguns pressupostos materiais, como um bom sistema de transporte e comunicações, e sem níveis mínimos de segurança pública, segurança jurídica e respeito aos contratos. Enfim, fatores que afetam a capacidade de criação e execução de pessoas trabalhando em grupo. O Brasil desenvolveu, nos últimos anos, políticas louváveis de redução da desigualdade e desenvolvimento social. Mas o melhor gestor da inclusão social não é o Estado. Os países onde a desigualdade é mais baixa são justamente aqueles em que o grau de complexidade econômica é mais alto. As economias de alta complexidade, ou seja, aquelas em que os fatores econômicos, educacionais e tecnológicos se entrelaçam em relações de interdependência e de subordinação, põem em funcionamento um círculo virtuoso altamente inclusivo.
Veja: Como medir a complexidade de uma economia?
Hidalgo: Desde 2009, desenvolvo, com colegas de diversas disciplinas, um indicador sobre isso, o Economic Complexity Index (ECI). Ele tem uma versão brasileira, o DataViva, fruto de uma parceria entre o MIT e o governo do Estado de Minas Gerais. O índice atribui um peso à informação contida em cada produto, do material à tecnologia e aos processos de gestão necessários para que ele seja criado. A complexidade dos produtos de uma região revela muito mais sobre ela do que o produto interno bruto (PIB), pois reflete os investimentos em educação e o tempo de escolaridade da população. São José dos Campos, em São Paulo, o berço da Embraer, é um centro produtor e exportador de aviões. Portanto, juntam-se ali pessoas que entendem de física, outras que sabem desenhar fuselagens e asas ou que dominam a tecnologia da informação. A análise da complexidade de cidades como São José dos Campos e dos produtos que saem delas serve de base para estabelecer políticas que aumentem o potencial de crescimento de muitas regiões.
Hidalgo: Desde 2009, desenvolvo, com colegas de diversas disciplinas, um indicador sobre isso, o Economic Complexity Index (ECI). Ele tem uma versão brasileira, o DataViva, fruto de uma parceria entre o MIT e o governo do Estado de Minas Gerais. O índice atribui um peso à informação contida em cada produto, do material à tecnologia e aos processos de gestão necessários para que ele seja criado. A complexidade dos produtos de uma região revela muito mais sobre ela do que o produto interno bruto (PIB), pois reflete os investimentos em educação e o tempo de escolaridade da população. São José dos Campos, em São Paulo, o berço da Embraer, é um centro produtor e exportador de aviões. Portanto, juntam-se ali pessoas que entendem de física, outras que sabem desenhar fuselagens e asas ou que dominam a tecnologia da informação. A análise da complexidade de cidades como São José dos Campos e dos produtos que saem delas serve de base para estabelecer políticas que aumentem o potencial de crescimento de muitas regiões.
Veja: O PIB não mede essas complexidades?
Hidalgo: O PIB é uma medida agregada, que consiste na soma de produtos e serviços em uma economia. Ele não considera os elementos que fazem um país funcionar. O PIB pode ser exatamente o mesmo para uma economia que produza carros e aviões e outra que exporte bananas e carvão, ainda que elas tenham um DNA completamente diferente. O PIB não discerne a capacidade produtiva de uma região, e isso faz dele um indicador incompleto.
Hidalgo: O PIB é uma medida agregada, que consiste na soma de produtos e serviços em uma economia. Ele não considera os elementos que fazem um país funcionar. O PIB pode ser exatamente o mesmo para uma economia que produza carros e aviões e outra que exporte bananas e carvão, ainda que elas tenham um DNA completamente diferente. O PIB não discerne a capacidade produtiva de uma região, e isso faz dele um indicador incompleto.
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