domingo, 23 de agosto de 2015

Instituto Millenium- “Fazemos ciência no Brasil em condições miseráveis”

Neurocientista brasileira de grande reconhecimento internacional, Suzana Herculano-Houzel chefia um grupo de pesquisa composto por 15 cientistas, no chamado Laboratório de Neuroanatomia Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nos últimos 11 anos, assinou 45 artigos científicos, todos muito bem prestigiados. O mais recente, publicado no mês passado na Science, uma das mais importantes revistas científicas do mundo, promete mudar os livros de ciência ao sugerir uma nova explicação para as famosas e intrigantes “dobras” do cérebro.
Todo o glamour, porém, cai por terra quando Suzana explica as “condições miseráveis” com que tem feito ciência no Brasil. “Trabalho na Science? Bacana. Mas deixa eu contar como a gente fez isso. Só fazendo mágica”, disse ela, ao iniciar sua entrevista a “Época”.
O laboratório chefiado por Suzana paralisou suas atividades recentemente, quando os recursos financeiros chegaram ao fim. Segundo ela, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) aprovou, em novembro passado, uma verba de R$ 50 mil para financiar três anos de pesquisa. Desse valor, apenas R$ 6 mil foram liberados ao grupo, e não há previsão para o repasse do restante. A justificativa do órgão, segundo a pesquisadora, é que “o valor que o CNPq passou foi o que eles tinham, o resto depende de Fundos Setoriais, e os Fundos Setoriais foram cortados”.
Ela tem ainda dois projetos aprovados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), ainda sem valor ou data definidos para a liberação. “Não temos condições de trabalhar. O investimento e o apoio que recebemos no Brasil é medíocre”, afirma. Desde que os repasses foram cortados, a cientista tem mantido o laboratório às custas do próprio dinheiro. “Já gastei mais de R$ 15 mil reais. Mas chegou num ponto que… acabou. Meu salário é de professora universitária. Eu não tenho mais dinheiro.”
Suzana voltou ao Brasil em 1999 após mestrado nos Estados Unidos, doutorado na França e pós-doutorado na Alemanha — tudo num período de dez anos, incluindo a graduação em Biologia pela UFRJ. “Voltei porque tinha um idealismo. Achava que seria capaz de fazer as coisas melhorarem. Mas hoje a vontade é de chorar e ir embora”, diz ela, que já se vê forçada a deixar o país.

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