quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Portal Libertarianismo-Políticos, por favor, parem de ignorar o conceito de escassez

Todas as pessoas têm uma teoria sobre como o mundo funciona, isto é, uma forma de conectar causa e efeito. Sem ela, não saberíamos o que fazer: “se eu acordar às 7 da manhã amanhã, eu vou conseguir chegar a tempo no trabalho. E então…”.
Nossas teorias – as regras e princípios pelos quais interpretamos o mundo – ajudam-nos a pensar e planejar, mas também, até certo ponto, restringem nosso pensamento e planejamento. Isso pode ser algo bom, desde que nossas teorias se adaptem razoavelmente bem ao mundo real. Nós entendemos, por exemplo, que a melhor forma de sair do 10º andar de um prédio não é necessariamente pulando da janela mais próxima.
Para os economistas que estudam a ação humana no mundo real, um dos princípios que não podemos ignorar é que a escassez existe – para obter mais de um bem valioso, você terá que dar em troca outra coisa de valor. Na verdade, você poderia dizer que a não compreensão da natureza e significância da escassez é a marca registrada de alguém que não é um economista, ou é um economista muito ruim.
No nosso cotidiano, é praticamente impossível ignorar a existência da escassez. Para a maioria de nós é bastante óbvio que tempo e dinheiro não são ilimitados. Se quisermos uma casa maior provavelmente necessitaremos ganhar mais, isto é, modificar a relação de tradeoff entre lazer e trabalho. Em um livre mercado puro – sem o poder político arbitrário e agressão – a realidade econômica da escassez é uma “dura restrição”, o que é sempre termos em mente ao fazer planos.
Economia vs. política
Contudo, identificar implicações mais sutis e de longo prazo da escassez em um determinado grupo de circunstâncias é uma tarefa que exige muito treino e prática, os quais nem todo mundo tem ou, na verdade, necessitaria ter.
Murray Rothbard coloca da seguinte forma,
Não é crime desconhecer economia, posto que é uma disciplina especializada e que a maioria das pessoas considera uma “ciência lúgubre”. Contudo, é totalmente irresponsável expressar uma opinião em alto e bom som sobre questões econômicas enquanto permanece em um estado de ignorância.  
Infelizmente, a política muito nos tenta a agir de forma irresponsável. A política trata essencialmente de adquirir e usar o poder político – a iniciação da violência física. Se o primeiro princípio da economia é que “a escassez existe”, então com muita frequência o primeiro princípio da política é “ignore o primeiro princípio da economia!”
Na ausência de privilégio legal ou opressão, as pessoas em um livre mercado têm que lidar com as duras restrições orçamentárias impostas pela escassez. Mas no mundo da política, as pessoas podem tentar se imunizar contra a escassez ao fazer outras pessoas pagarem pelas coisas que elas querem para si ou para seus compadres. A política é o domínio da “leve restrição orçamentária”, o que levou Margaret Thatcher a dizer, “o problema do socialismo é que você eventualmente fica sem dinheiro dos outros para gastar”.
Infelizmente, o mesmo poderia facilmente ser dito de vários tipos de políticos em todos os lugares do mundo.
Princípios vs. consequências
Tal fato sugere talvez outra forma de diferenciar libertários dos progressistas de esquerda. Para os libertários, os princípios econômicos restringem nosso pensamento. Para os progressistas, a realidade econômica restringe seus resultados.
O que quero dizer é que quando os progressistas, por exemplo, demandam que empresários paguem salários mínimos cada vez maiores aos seus funcionários, eles ignoram a dura realidade de que outros, frequentemente não vistos, devem arcar com o custo de sua “compaixão”, e que essesoutros são, na sua maioria, jovens e trabalhadores inexperientes que serão considerados muitos caros para serem empregados. Ou, um empregador pode reduzir os benefícios extras que brindava anteriormente aos seus funcionários, piorando a sua situação geral.
Mas como, desde o princípio, os libertários tendem a ser mais atentos a princípios econômicos, eles são mais capazes de moldar suas propostas, no mínimo, de forma a não prejudicar exatamente as pessoas que os progressistas buscam ajudar. É menos provável que os libertários se sintam desapontados quando suas políticas confrontam a realidade econômica. Como foi uma vez dito, “a economia é a arte de colocar parâmetros em utopias”. A escassez é um desses parâmetros. (Alguns podem recordar da distinção feita por Thomas Sowell entre “visão restrita” e “visão irrestrita”, a qual, todavia, acredito focar mais na visão particular da natureza humana: se é perfectível ou não).
Inovando dentro de restrições
Frente à pobreza, condições insalubres de trabalho, violência e outros tantos problemas socioeconômicos persistentes, somos frequentemente advertidos pela esquerda a pensar além do capitalismo, a pensar de forma criativa ou “fora da caixa”. Por que não tentar mudar esses parâmetros ou removê-los por completo?
Bem, mesmo os gênios da música de tradições tão distintas quanto a clássica, o jazz e o rock devem aprender as regras do seu gênero antes que possam quebra-las ou mesmo ir além delas. Antes dobebop, Charlie Parker teve primeiro que ser mestre no saxofone e as convenções musicais do seu dia. Somente então ele pode ter sucesso fora do jazz convencional. Para pintar fora das linhas, é preciso saber onde estão as linhas.
Além disso, a escassez não é uma coisa criada pelo homem que pode ser desfeita puramente pela força de vontade ou pelo desejo dos homens. Nós temos que levá-la em conta quando analisamos o mundo real. Do contrário, corremos o risco de fracasso pessoal ou talvez coisa pior. Nada disso significa, todavia, que não podemos reduzir dramaticamente a escassez e tratar esses problemas.
Às vezes, existem almoços grátis. É possível enfraquecer as restrições e reduzir a escassez por meio da eficiência (conseguir mais com menos) ou, mais importante, por meio da inovação (criar algo de valor que não existia antes). Henry Ford, Estee Lauder e Norman Borlag reduziram significativamente a escassez de carros, cosméticos e alimentos – para um mundo de pessoas comuns dentro das restrições da física, química e economia.
Nós podemos chegar aonde queremos mais rapidamente quando podemos ver o caminho.
// Tradução de Matheus Pacini. Revisão Ivanildo Terceiro. | Artigo Original

Sobre o autor

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Sandy Ikeda é Professor de Economia na Purchase College da Universidade Estadual de Nova York, local em que recebeu o seu Ph.D. em economia e onde estudou com Israel Kirzner, Mario Rizzo, Fritz Machlup e Ludwig Lachmann. Autor de "The Dynamics of the Mixed Economy: Toward a Theory of Interventionism (1997).", é um Associado do Institute for Humane Studies (IHS).

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