terça-feira, 25 de agosto de 2015
Caio Blinder- Para cima e para baixo, “made in China”
Com a “segunda-feira negra” nos mercados globais, a semana começou com alta intensidade, alta volatilidade e momentos de pânico (será que estamos em outubro de 1929? Em setembro de 2008?). O guru financeiro Ruchir Sharma, do banco de investimentos Morgan Stanley, é metódico na sua perspectiva histórica. O fato é que o mundo entra no sétimo ano de uma morna recuperação (sendo redundante, estamos falando em termos globais e não localizados) e já é tempo de perguntar: quando terá lugar a próxima recessão e quem será responsável?
Uma recessão global tem acontecido a cada oito anos nos últimos 50 anos. Os sinais mostram que a próxima será “made in China”. Será um proeza histórica (é o preço de estar na primeira divisão). Afinal, os EUA têm sido o maior contribuinte para a expansão e para a contração da economia global. Desde a recessão de 2008/2009, pela primeira vez na história recente, outro país foi o maior contribuinte para a expansão global. A China foi responsável por 1/3, enquanto os EUA por 17%.
O mundo acompanha e fica aflito com a crônica de uma crise adiada, em uma trama “made in China”. O negócio do comando comunista é controlar tudo e até onde deu foram adotados pacotes de estímulos e políticas intervencionistas. A meta é fazer a transição para uma economia mais sustentável, com menos foco nas exportações e mais no mercado doméstico. Uma transição sem paralelo desde as reformas econômicas adotadas por Deng Xiao Ping no final dos anos 70, talvez ainda mais difícil.
Agora, é esta encrenca: fazer mais reformas e reequilibrar a economia enquanto se tenta manter uma taxa irrealista de crescimento se revelam metas incompatíveis. A meta de crescer 7% foi inflada com bolhas de crédito, do mercado imobiliário e mais recentemente da bolsa de valores. Para segurar as pontas, nas últimas semanas ocorreram intervenções cambiais e no mercado de ações.
Elas não surtiram efeito, mas é possível que novos lances de estímulo sejam tentados, apesar do choque de credibilidade do governo de Xi Jinping, o mais poderoso dirigente chinês desde Mao. Ele e seus apaniguados (e olha, que muita gente foi expurgada nos últimos tempos na cruzada contra corrupção) não se revelam como os competentes gerentes econômicos cantados em verso, prosa e propaganda.
Em meio a estas injeções que não reaminam o paciente (e, na verdade, criam mais pânico), os sinais são de que no primeiro semestre a economia não teve uma expansão de 7%, conforme apregoado pelas autoridades, mas algo como 5%, o que, para os padrões chineses e das expectativas mundiais, é desolador. Não custa lembrar como esta encrenca chinesa está custando para os fornecedores de commodities como o Brasil.
O superguru Ian Bremmer, da consultoria Eurasia, arrisca outro cenário. Ele não se mostra alarmista. Aponta as “turbulências do verão” na China, mas insiste que o regime tem dinheiro e ferramentas para estabilizar os mercados e estimular a economia. Ele ainda aposta que será a década da China (no bom sentido e não no mau, sinalizado por Ruchir Sharma).
Bremmer me parece muito otimista e determinista sobre a China. O regime tem esta determinação para controlar o passado (com o revisionismo histórico), o presente e o futuro, mas não dá para ser onipresente. O regime chinês, com mais intensidade do que outros atores políticos e econômicos, quer atuar com uma irrealista meta de estabilidade e isto se revela mais inalcançável do que nunca.
Isto, no entanto, é uma longa conversa. Estamos apenas no começo de uma semana e não sabemos o quão “negra” ela irá terminar.
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