sábado, 13 de junho de 2015

Valentina de Botas: O jeca apelida a verdade de ‘campanha de difamação’ e festeja demissões de trabalhadores da imprensa

VALENTINA DE BOTAS
Não importa o céu que o cubra, o homem leva consigo seu espírito, Sêneca ensina. A presidente expandiu tal espírito em entrevistas no México e na França, acertando ao dizer que o escândalo da Petrobras não é o escândalo da Petrobras: com a empresa abusada por 13 anos de lulopetismo, ele é de Dilma, do jeca, do PT e agregados.
Coberta pelo céu francês ou mexicano, sempre arredia à verdade, a presidente se une ao inventor em Salvador para despistar a górgona que os contempla: Alberto Yousseff revelou na Lava Jato, à mercê de graves consequências caso minta, que a dupla sabia do Petrolão.
Arrastando o espírito repleto em aleijões ao congresso do PT que só num país tão complacente não tem o registro partidário cassado, o jeca apelida a verdade de “mais sórdida campanha de difamação” e saúda que a “crise de que tanto eles falaram” chegou para “eles” e acusa as empresas de jornalismo, que têm demitido funcionários, de não saberem lidar com a recessão semeada pela súcia, em inépcia e ladroeira, para o país inteiro colher em diferentes setores, já garantidas futuras colheitas infelizes no endividamento do Estado assaltado.
Eis aí a torpe solidariedade de que Lula, nu em andrajos morais, é capaz aos trabalhadores de cuja angústias tripudia. O jornalismo financiado com a grana do Brasil de todos para alguns aduladores da súcia não precisa, claro, lidar com crise nenhuma, nem com a de consciência, pois desta a Secom cuida. Enquanto os brasileiros decentes buscamos cerzir possibilidades para reerguer o país, o sacerdote zumbi prefere dividir para reinar e cultua a clivagem entre ricos e pobres como se ricos não vivessem bem sob quaisquer céu e governo.
Deu à voz o mesmo verniz de fogo com que a presidente, que sucateou o clube de cafajestes fundado pelo antecessor coberto por nosso formoso céu risonho e límpido, atacou a VEJA que trazia a verdade sobre o Petrolão na véspera da eleição. A revista, no espírito do jornalismo independente – o único válido –, cumpria a missão de dizer a verdade aos leitores a qualquer tempo.
Falando ao país grávida de pânico que disfarçou em indignação, mas ainda conseguindo desviar o olhar aparvalhado do olhar impiedoso da Medusa, Dilma pariu um processo judicial natimorto no pronunciamento ancorado em cinismo: o país não poderia saber que ela e o jeca sempre souberam de tudo. Não querem apenas que não saibamos, querem também que não queiramos saber, querem-nos fora de combate, fora do nosso espírito: rendidos aos aleijões do deles.
Entendem como predestinação que disponham sobre nossos quereres e pensares, assim, ainda depois de nos tirar tudo, não estarão saciados e, esperando que nossa lucidez nos enlouqueça e que nossos olhos fiquem cegos de tanto ver, derramam sobre a superfície das coisas o espírito da deformação que, mesmo insidioso odiosamente, não penetrará a verdade delas.
De um regime que sonha à noite que de dia estará submetendo o que resta da imprensa independente e da nação indignada, só temos o direito de aguardar mais canalhices. Mas também tem o direito já tornado dever a nação indignada de continuar forçando tal bando a encarar a imagem horrenda de si mesmo no brilho letal e revelador do olhar da górgona. É a verdade, que verdade é sob qualquer céu.

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