As saúvas, os políticos e a sobrevivência nacional

Bem, os vorazes insetos não acabaram conosco. Mas aparentemente tampouco acabamos de vez com eles, se bem tenhamos conseguido reduzí-los a um número tolerável. De qualquer maneira, podemos provavelmente estar seguros de que haverá algum órgão remanescente no Ministério da Agricultura encarregado da contagem das saúvas e de alertar-nos no caso de algum surto indesejável daqueles predadores. Se de fato essa unidade burocrática existe, seus funcionários estarão pelo menos preocupados com a preservação de um número mínimo de saúvas que justifique os seus empregos atuais.
Nada mais a dizer sobre as saúvas. Mas e quanto aos políticos? Seria adequado estender a eles o slogan da campanha contra as saúvas? “Ou o Brasil acaba com os políticos, ou os políticos acabam com o Brasil…” Afinal, a classe dos políticos é execrada em todas as partes do mundo, e essa rejeição é compreensível, pois os políticos podem “acabar” com qualquer país onde o processo político for suficientemente grande. E não se trata de mera especulação: a história se encarrega de prover a evidência que justifica a possibilidade. Mas isso seria suficiente para justificar a adoção do slogan? A resposta é obviamente negativa, pois nenhum país pode prescindir do process político de decisões coletivas, que se encarrega de buscar solução para problemas que o mercado tem dificuldade de tratar satisfatoriamente. Dessa maneira, o processo político não apenas é inevitável, como é vital. Assim sendo, não se pode acabar com os políticos. Na realidade, deve-se tratar de animar a formação de agentes políticos esclarecidos e honestos.
Mais urgente e importante ainda é a redução das dimensões do processo político; sua contrapartida é a maximização do processo de mercado baseado nas decisões individuais. As consequências seriam o enobrecimento do papel do agente político (pois deveriam diminuir a arbitrariedade, os desmandos e a corrupção) e a melhoria das condições de vida da população (pois há correlação inversa entre o tamanho do setor público e o crescimento econômico). Em síntese, quanto menor é o processo político de decisões coletivas (quanto maior é a jurisdição da economia de mercado e o processo de decisões individuais responsáveis e livres), mais respeitável e suportável se torna a atividade política e melhores tendem a ser as condições de vida da população em geral.
O slogan da campanha contra as saúvas poderia então ser adaptado para os políticos da seguinte forma: “ou o Brasil reduz o governo e o processo político às suas devidas proporções, ou eles acabam com o Brasil”.
Og Leme
Og Leme foi um dos fundadores do Instituto Liberal, permanecendo por décadas como lastro intelectual da instituição. Com formação acadêmica em Ciências Sociais, Direito e Economia, chegou a fazer doutorado pela Universidade de Chicago, quando foi aluno de notáveis como Milton Friedman e Frank Knight. Em sua carreira, foi professor da FGV, trabalhou como economista da ONU e participou da Assessoria Econômica do Ministro Roberto Campos. O didatismo e a simplicidade de Og na exposição de ideias atraíam e fascinavam estudantes, intelectuais, empresários, militares, juristas, professores e jornalistas. Faleceu em 2004, aos 81 anos, deixando um imenso legado ao movimento liberal brasileiro.
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