Deve ser trabalhoso pensar e decidir. Muito eleitor agora insatisfeito me diz que deu o voto porque “todo mundo estava votando em fulano e fulana”. É o Maria-vai-com-as-outras - expressão que nasceu no Rio de Janeiro de Dom João VI, quando viam a rainha-mãe, Dona Maria, a louca, sempre indo aonde íam suas damas-cuidadoras. Somos parecidos, alienados, quando apenas decidimos ir com os outros, porque é mais fácil e cômodo; não é preciso pensar.
Uma forma de seguir os outros alienadamente, sem pensar, é seguir os modismos. E isso está no nosso dia-a-dia e não apenas como eleitores. Outro dia perguntei a um jovem por que ele havia coberto o braço com uma horrível tatuagem que vai levar por toda a vida. Ele me respondeu que os jogadores que ele admira fizeram isso e ele fez também.
Outros furam as narinas, as orelhas e põem argolas metálicas, para ficarem parecidos com os demais da turma - e vão ter uma cicatriz ali por toda a vida. Sem personalidade, desaguam numa personagem mais forte, mas sem corpo e sem mente: a “turma”. São alvos fáceis da propaganda: sem pensar, imaginam-se personagens criados pelos publicitários. Vão comprar a mesma marca de tênis, a camisa com propaganda no peito e não vão tirar o bonezinho da cabeça mesmo durante as refeições.
Quando amadurecem, os hábitos passam. Mas muitas pessoas já com idade para estarem maduras, ainda caem no modismo, agora para serem “politicamente corretos”: gritam contra o “aquecimento global”, sem pesquisar para descobrir que isso é uma fraude; vociferam contra os transgênicos, mas não sabem que a ciência nada tem contra eles; são militantes de alimentos orgânicos, sem parar para constatar que tudo que se come é orgânico; falam mal do carbono, mas se tivessem sido bons estudantes de química, saberiam que só há vida onde houver carbono; viram vegetarianos, sem considerar o fato biológico de que humanos são omnívoros e não herbívoros.
O mais grave é quando o modismo afeta a vida humana. Mães ingênuas são convencidas de fazer parto em casa, como era no tempo de suas avós, em que não era raro morrer a mãe ou o bebê. Se num hospital com centro obstétrico, centro cirúrgico, UTI, o parto sempre traz risco, imagine-se em casa. Essa forma de ganhar dinheiro pode trazer de volta risco para a mãe e perigo de sequelas neurológicas permanentes para o bebê, caso haja alguma surpresa.
Em Brasília, o Ministério Público acaba de denunciar uma obstetra, uma enfermeira e uma doula por lesão corporal dolosa. A cabeça do feto ficou presa e sem condições de fazer uma cesárea em casa, a criança ficou com epilepsia e encefalopatia hipo-isquêmica. E outra moda, a do “parto humanizado” traz o risco de lacerações e consequências futuras. Por trás de modismo, há o ativismo quase fanático, lucro, e gente que acredita. Para sermos realmente indivíduos, não podemos nos diluir na massa. E como é difícil ser singular, cercado pelo plural!
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