sexta-feira, 17 de abril de 2015

IMB- Quando a moeda morreu na Alemanha

A história da destruição do marco alemão durante a hiperinflação da República de Weimar, de 1919 até o seu auge em novembro de 1923, é normalmente descartada como sendo apenas uma bizarra anomalia ocorrida em toda a história econômica do século XX.
Mas nenhum episódio ilustra de maneira mais completa as sinistras consequências do que pode ocorrer quando o dinheiro se torna um mero papel sem nenhum lastro e passa a ser utilizado livremente pelo governo.  Mais ainda: nenhum episódio apresenta um argumento mais devastador e real contra o papel-moeda fiduciário: quando não há restrição à maneira como o governo gerencia moeda, ela morrerá.
"O fato de que as causas da inflação ocorrida na República de Weimar, bem como toda a conjuntura da época, dificilmente irão se repetir é o de menos", escreveu o historiador britânico Adam Fergusson em seu clássico de 1975, Quando o Dinheiro Morre. "A pergunta a ser feita — ou perigo a ser reconhecido — é como a inflação, qualquer que seja a sua causa, afeta uma nação."
Antes da Primeira Guerra Mundial, o marco alemão, o xelim britânico, o franco francês e a lira italiana tinham aproximadamente os mesmos valores — quatro para um dólar.  Ao fim de 1923, a taxa de câmbio do marco já era de um trilhão de marcos para um dólar — o que significa que a moeda havia perdido 99,9999999996% do seu poder de compra nesse período; ou, em outras palavras, ela valia um milionésimo de milhão do que valia há apenas dez anos.
Em meados de 1922, uma fatia de pão custava 428 milhões de marcos, e todas as ações da Daimler Corporation compravam o equivalente a 327 de seus carros.  Já em novembro de 1923, uma quantidade de marcos que, dez anos atrás compraria 500 bilhões de ovos, agora mal conseguia comprar um ovo.
O ex-primeiro ministro britânico Henry Lloyd George, escrevendo em 1932, comentou que palavras como "catástrofe", "ruína" e "devastação" não eram suficientes para descrever a situação alemã, dado que seus significados já haviam se tornado banais. Saques, vandalismo, roubos, ascensão da prostituição, inanição, doenças, e até mesmo consumo de cães se tornaram banais.  Pessoas tinham suas roupas roubadas nas ruas.  Tudo isso eram eventos do cotidiano de sociedade "burguesa" da época.
A constante iminência de uma guerra civil pairava sobre a Alemanha, como já estava acontecendo com o bolchevismo na Rússia. A Bavaria teve de declarar lei marcial.

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