sexta-feira, 27 de março de 2015

Delfim desanca socialistas em templo do socialismo

Delfim Netto é muito inteligente, isso ninguém nega. Onde há controvérsias é sobre o uso de tal inteligência. Desenvolvi aqui a tese de que se trata de dois em um, uma espécie de Dr. Jekyll and Mr. Hyde. Dependendo do dia, vemos o médico sábio em ação, ou então o monstro colocando seu conhecimento em prol de coisas indefensáveis – como o governo petista.
Mas dessa vez Delfim se superou e me surpreendeu, admito. O homem desancou os socialistas em pleno templo do socialismo! Usou seu espaço na Carta Capital para meter o pau nos retrógrados defensores da ideologia vermelha, que trata com desdém o mercado – o pobre mercado, esse ente abstrato que adquire CPF, endereço e tudo mais por parte da esquerda, personificando todo o mal existente no mundo.
O que foi dito não é o mais interessante – muitos outros dizem coisas similares, e para ser sincero, é puro bom senso reconhecer que alguma tensão entre “urna” e “mercado” tem sido a trajetória dos países mais desenvolvidos. O que nos chama a atenção é onde foi dito, e também por quem foi dito. Não era um texto meu ou de Reinaldo Azevedo na Veja, e sim um texto de Delfim Netto, até ontem defensor de Dilma, na CC! Seguem alguns trechos para o leitor compreender o espanto:
Todos sabemos que a URSS implodiu em 1991 por uma constelação de erros econômicos e corrupção política, sob o jugo dos herdeiros daquela “vanguarda” partidária que em 1917 convencera o mundo intelectual de que era portadora do segredo do sonho generoso de como organizar a sociedade para a felicidade geral, o “socialismo”.
[...]
O curioso é que, em 1919, durante a revolução comunista de Bela Kun, na Hungria, Georg Lukacs, pragmaticamente, já esquecera o “altruísmo” e escreveu: “Se os trabalhadores não adotarem imediata e espontaneamente uma disciplina de trabalho e aumentarem a sua produtividade, o proletariado deve aplicar a ditadura a si mesmo (sic), isto é, devem ser criadas instituições que os obriguem a fazê-lo”. Tinha razão George Orwell, “um homem tem de pertencer à ‘intelligentsia’ para acreditar numa coisa como essa!”
[...]
A esquerda consagrou Luckacs como o Galileu do século XX, mas no século XXI persiste a indignação de alguns de nossos intelectuais que continuam a se pretender “vanguarda”. Não se conformam com a “alienação” que os trabalhadores revelam nas urnas nos processos democráticos livres. Como é possível que, apenas porque gozam de relativo conforto no emprego, têm um salário razoável para sustentar sua família, contam com alguma segurança e têm alguma garantia de uma modesta aposentadoria, rendem-se à sociedade “consumista” e “exploradora” produzida pelo indecente “capitalismo”? Por que, afinal, negam-se o “direito” de se entregarem à “democracia” que eles lhes oferecem e que os levará ao paraíso do “socialismo”?
A explicação cínica e talvez a verdadeira é que o trabalhador “alienado” aprendeu que a tal “esquerda” está, em geral, confortavelmente instalada no serviço público, gozando seus “direitos” pagos com os recursos que o maldito Estado capitalista extrai dele! Aprendeu na vida real o que a “vanguarda” finge ignorar: a igualdade prometida significa, no fundo, mais Estado e a busca da igualdade absoluta significa o Estado absoluto, que, para compensar sua ineficiência também absoluta, sempre exige o fim da liberdade.
[...]
 O insuperável Adam Smith, 250 anos atrás, na sua Teoria dos Sentimentos Morais (1759), já alertava seus leitores contra aqueles que se julgam sábios e “imaginam que podem organizar os membros de uma grande sociedade com a mesma facilidade com que organizam as peças de xadrez num tabuleiro”.
No momento em que nossa juventude continua sendo miseravelmente deseducada pela história “criativa” promovida pelos mesmos “intelectuais” financiados pelo governo, é preciso insistir. Não há caminho especial para a realeza na construção da sociedade civilizada! Ela tem de resultar do jogo democrático dinâmico e continuado, entre o “mercado” e a “urna”. As alternativas propostas nunca levarão a ela. São atalhos propostos ou pela direita boçal, cuja ditadura consome 20 anos, ou pela esquerda imbecil, que costuma durar 70.
Não fui eu quem escreveu tais palavras! E tampouco elas foram publicadas na Veja! Para o desespero dos “intelectuais” de esquerda, elas foram proferidas por um “companheiro”, ao menos de tempos mais recentes, e publicadas naquela revista que adora propaganda estatal. Um espanto…
Rodrigo Constantino

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.