terça-feira, 10 de março de 2015

Caio Blinder- O Estado Islâmico bate de cabeça na realidade

O Estado Islâmico continua sua bizarra marcha de barbárie no Siraque, ao decepar cabeças de variações de “infiéis” (de jornalistas ocidentais a jovens homossexuais iraquianos) ou destruir o patrimônio arqueológico da humanidade. No meio do caminho, no entanto, encontra obstáculos comuns e até triviais na vida de qualquer movimento rebelde.
Alguns obstáculos são na frente externa, como reveses militares nos combates contra curdos (na Síria e Iraque), o Exército iraquiano e milícias xiitas (também no Iraque). Outros problemas são nos intestinos deste animal selvagem. São os relatos de dissidência, deserções, rivalidades e escândalos de corrupção.
O Estado Islâmico atraiu turistas-terroristas de várias partes do mundo, inclusive de países ocidentais. Os militantes nativos (Síria e Iraque) estão ressentidos com os melhores salários e melhores condições de vida dos gringos. Um estrangeiro recebe USS 800 mensais, enquanto um nativo ganha US$ 400. Os gringos têm mais oportunidades para viver em cidades ocupadas pelo Estado Islâmico, onde estão menos expostos a bombardeios aéreos da coalizão liderada pelos EUA, pois a população civil serve de estudo humano.
Por estimativas da inteligência americana, o movimento conta com 20 mil militantes estrangeiros de 90 países e uns 18 mil da Síria e do Iraque, fazendo com que o Estado Islâmico seja hoje o maior grupo jihadista.
Em comum, alguns militantes estrangeiros e nativos ficaram horrorizados com o estágio simplesmente ensandecido de barbárie do movimento. Desertores pegos sofrem o mesmo infortúnio dos demais infiéis. Em contrapartida, existe a desilusão de extremistas extremos que, por incrível que pareça, acusam o líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, de ser infiel, pois tolera muçulmanos que não seguem a cartilha teológica do movimento desde que paguem tributos. E o botim amealhado se converteu em um paraíso para quadros do movimento, com informes sobre corrupção,
De acordo com relatos de desertores feitos ao Wall Street Journal, houve até um debate no conselho que determina direterizes teológicas se era permitido ou não pelo Corão que o capturado piloto jordaniano Muath al-Kasasbeh fosse queimado vivo. Ele acabou sendo colocado em uma jaula, encharcado com gasolina e o vídeo mostrado ao mundo.
Em fevereiro, dois jihadistas egípcios que administravam a província síria de Deir Ezzour fugiram com milhares de dólares dos cofres do grupo e o chefe da polícia religiosa na cidade de Raqqa, capital de fato do tal califado, se mandou para a Turquia também com milhares de dólares. E existem as acusações de que jihadistas europeus trouxeram velhos hábitos e não querem pegar no pesado, fazendo o que podem para viver às custas do “estado islâmico do bem-estar social”.
Em meio aos reveses militares e estes desafios internos, o Estado Islâmico continua a atrair recrutar e conquistar a lealdade de outros grupos ensandecidos como o Boko Haram, que aterroriza o nordeste da Nigéria. No entanto, como analisa Lina Khatib, do Centro Carnegie para o Oriente Médio, em Beirute, para o Washington Post, a maior ameaça para a preservação do Estado Islâmico é a colisão entre suas promessas alucinadas e a realidade nesta terra ingrata que é o Siraque.
Eu acredito que a história reservará ao Estado Islâmico uma hedionda nota de rodapé no capítulo da barbárie no começo do século 21.

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