quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

SENADO: Brasil faz opção pelo que há de “mais atrasado e populista” na política externa, critica ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores

Ricardo Setti-Veja
Da Agência Senado
O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) disse esperar que a mudança de comando no Ministério das Relações Exteriores contribua para recolocar a diplomacia brasileira a serviço dos interesses permanentes do país. No início do ano, o embaixador Mauro Vieira substituiu o embaixador Luiz Alberto Figueiredo à frente do Itamaraty.
[Embora seja do PMDB, partido que apoia o governo, Ferraço costuma agir com independência. Como então presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, teve papel importante na fuga para o Brasil, em agosto de 2013, do ex-senador boliviano Roger Molina.
Alegando ser perseguido politicamente, Molina conseguiu asilo na embaixada brasileira em La Paz, onde permaneceu por 15 meses em condições degradantes, confinado a um pequeno quarto improvisado, sem direito a banho de sol e com permissão apenas para receber visitas esporádicas da família e do advogado. O governo Dilma sabia de sua situação, mas não tomou providências ao longo de todo esse tempo, enquanto o amigão de Lula Evo Morales negava salvo-conduto para o ex-senador deixar a sede da representação diplomática brasileira.
Depois de mais de um ano nessa condição, Molina, já com saúde frágil, entrou em depressão. Em agosto de 2013, o diplomata Eduardo Saboia, à época embaixador interino, decidiu resolver o problema por conta própria: em um carro oficial escoltado por fuzileiros navais brasileiros, ele e Molina viajaram por 22 horas entre La Paz e Corumbá (MS), e depois seguiram para Brasília em um avião obtido pelo senador Ferraço, que já havia intercedido em vão pelo refugiado e o visitara na Bolívia.]
Em seu discurso no Senado sobre a política externa do governo, Ferraço afirmou que o Brasil tem faltado à sua obrigação de atuar como fator de equilíbrio na América do Sul, pois a política externa faz opção pelo que há de “mais atrasado e populista”.
— O que temos visto no passado recente é mais que simples desvio de rota ou de guinadas inexplicáveis. Assistimos ao esvaziamento decisório do nosso Itamaraty. O Brasil está ressentido da falta de apoio, da falta de autoridade, da falta de rumo na condução da nossa política externa.
É preciso “mexer em time que está perdendo”
Ao salientar a necessidade de se “mexer em time que está perdendo”, Ferraço sugeriu o fim do que chamou de “paciência estratégica” com países como Argentina e Venezuela, argumentando que a amizade não pode justificar a aceitação de desmandos.
O senador lembrou que o Brasil continua sendo uma das economias mais fechadas do mundo. Sugeriu a celebração de acordos bilaterais de comércio mais vantajosos para o país, de modo a compensar a  perda de relevância do Mercosul, e criticou a falta de resultados comerciais da política de aproximação com a África.
[Quem quiser saber mais sobre o episódio da fuga do ex-senador Roger Molina, basta clicar aqui.]

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