sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Caio Blinder- Não somos todos cristãos, yazidis, curdos…

Esta é a semana de mais flagelos dos cristãos assírios, em um começo do século 21 em que pessoas são massacradas, sequestradas e escravizadas pelos terroristas do Estado Islâmico na Síria.
Estamos no século 21, mas o Estado Islâmico é arauto do século 7. Os cristãos assírios (lembram-se das aulas de história sobre Mesopotâmia na escola?) se somam a outras minorias vítimas de genocídio na região.
Pessoas morrem no Oriente Médio pela razão exclusiva de pertencerem a uma religião, a uma minoria, a uma seita, a uma etnia. São cristãos assírios, são cristãos coptas, são yazidis, são xiitas e são curdos (judeus escapam, pois fora de Israel hoje em dia há poucos deles no Oriente Médio e África do Norte). São também sunitas, inclusive pelas mãos (e pelas espadas) dos “puristas” sunitas do Estado Islâmico.
O Estado Islâmico pratica o massacre dos “infiéis”, ou seja, daqueles que discordam do seu jihadismo ensandecido. Enquanto isso na Síria, prossegue o massacre em larga escala de sunitas pelo regime de Bashar Assad, que pertence à minoria alauíta e que massacra com o apoio do regime xiita iraniano e da milícia terrorista libanesa Hezbollah (também xiita).
Esta semana, o relatório da Anistia Internacional sobre violações de direitos humanos foi especialmente “generoso” com a ditadura Assad, por seu uso de bombas de barril e de agentes químicos contra a população civil em uma guerra civil multidimensional que já deixou mais de 200 mil mortos desde 2011.
Neste conflito multidimensional na Síria e também no Iraque (naquele território tenebroso que eu chamo de Siraque, cristãos assírios criaram sua própria milícia e combatem ao lado dos curdos, tanto contra o Estado Islâmico, como contra a ditadura Assad para preservar o seu povo, sua identidade religiosa e seu acervo cultural.
Não estou trazendo notícias bombásticas. Estou aqui para registrar o meu estado de indignação com a opinião pública internacional, especialmente europeia. Bacana marchar pelas vítimas do terror islâmico. Em janeiro, milhões marcharam em Paris depois do atentado no jornal Charlie Hebdo. Em fevereiro, dezenas de milhares marcharam em Copenhague, depois dos atentados no café e na sinagoga.
No entanto, europeus marcharam por europeus e também em nome dos direitos adquiridos pela civilização. Quero marchas também por estas pobres vítimas no fim do mundo (vamos incluir aqui a Nigéria empesteada pelo Boko Haram)
Temos marchas de solidariedade em várias partes do mundo, mas são encenadas pelos afortunados das próprias minorias que escaparam do inferno, caso da foto acima no ano passado, quando milhares de cristãos iraquianos refugiados na Austrália marcharam em Sydney.
Multidões marcham na Europa para protestar contra Israel quando o país vai à guerra em Gaza ou contra os EUA, como nas grandes mobilizações contra a invasão do Iraque. Mas, cadê a marcha pelos cristãos e outras minorias deste desolado território chamado Siraque e de outras terras ingratas? A esquerda europeia é obcecada com a questão palestina e a direita americana (inclusive a evangélica) com a defesa de Israel.
E vamos desgalhar: cadê as marchas pelos venezuelanos que marcham contra o chavismo e tomam bala?

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