terça-feira, 6 de janeiro de 2015

VIDA EM CUBA- Nosso muro não caiu… Porém não é eterno

Yoani Sánchez
Até então minha vida discorreu entre muros. O do malecón que me separava de um mundo sobre o qual só havia escutado o horror. O muro da escola onde estudava quando a Alemanha se reunificou. Um longo muro atrás do qual os vendedores ilegais de doces e guloseimas se escondiam. Quase dois metros de ladrilhos superpostos que alguns colegas saltavam para escapar das aulas, tão doutrinadoras como chatas. Somava-se a isso o muro do silêncio e do medo. Em casa meus pais levavam o dedo aos lábios, falavam em voz baixa… Algo acontecia, porém não me diziam.
Em novembro de 1989 o Muro de Berlim caiu. Na realidade o derrubaram, a golpes de marreta e cinzel. Foram contra ele os mesmos que, semanas atrás, pareciam obedecer ao Partido Comunista e crer no paraíso do proletariado. A notícia chegou lenta e fragmentada até nós. O oficialismo cubano tratou de distrair a atenção e dar pouca importância ao assunto; porém os detalhes iam, pouco a pouco, se enfileirando. Nesse ano a minha adolescência terminou. Tinha só quatorze anos e tudo que viria depois não me deixou lugar para ingenuidades.
                        Os berlinenses acordavam com o barulho dos martelos e os cubanos descobriam que o futuro prometido era mentira pura.
As máscaras caíram uma a uma. Os berlinenses acordavam com o barulho dos martelos e os cubanos descobriam que o futuro prometido era pura mentira. Enquanto a Europa do Leste de safava do longo abraço do Kremlin, Fidel Castro elevava seus gritos na tribuna e prometia em nome de todos que jamais iríamos claudicar. Poucos tiveram a lucidez de se dar conta que aquele delírio político nos condenaria aos anos mais difíceis já enfrentados por várias gerações de cubanos. O muro caía lá longe, enquanto outra barricada se levantava ao nosso redor, a da cegueira ideológica, da irresponsabilidade e do voluntarismo.
É passado um quarto de século. Os alemães hoje, e todo o planeta celebram o final de um absurdo. Fazem o balanço do conseguido depois daquele novembro e gozam da liberdade para se queixarem do que não deu certo. Nós, em Cuba, perdemos vinte e poucos anos para pegarmos o carro da história. Para nosso país o muro continua de pé, ainda que agora mesmo poucos apóiem um baluarte erguido mais por capricho de um homem do que por decisão de um povo.
Nosso muro não caiu… Porém não é eterno.
Tradução por Humberto Sisley

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