sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Caio Blinder- A Venezuela, para o abismo

Eu já escrevi algumas colunas mostrando o óbvio: poucos países são tão vulneráveis à abrupta queda dos preços do petróleo como a Venezuela. As ameaças jorram pelo mundo, de Moscou a Teerã. No entanto, a altíssima dependência das exportações pode levar o chavismo para o fundo do poço. É um dos petroestados mais disfuncionais. Estou sendo alarmista? Pouco em relação ao que salienta Keith Johnson em texto na publicação Foreign Policy.
Ele cita Pedro Burelli, ex-integrante da direção da PdVSA, a estatal Petroleos de Venezuela, e um cáustico crítico do finado Hugo Chávez e agora do seu sucessor Nicolás Maduro. Burelli alerta que países como Rússia, Irã e Iraque enfrentam pressões fiscais e não o risco de colapso total. Para ele, a Venezuela “pode mais provavelmente acabar como a Líbia”, hoje um petroestado falido, afundado na guerra de milícias.
Pessoalmente, acho exagero de Burelli e posso até ver as coisas de outro ângulo. Não digo que os demais países citados (exceto o Iraque) corram o risco de colapso total, mas eles enfrentam desafios bem mais íngremes do que pressões fiscais. De qualquer forma, Burelli menciona fragmentação do poder político, uma desoladora situação política e altas expectativas sociais (os programas assistencialistas), em uma combinação explosiva na Venezuela.
O presidente Maduro anunciou na semana passada um corte de 20% dos gastos governamentais. Ele jura que os programas sociais não serão afetados, mas é patente que incapacidade venezuelana para extrair novas receitas atinge um nível intolerável, resultando em inflação descontrolada, carência de gêneros básico e desemprego não reportado. Os investidores estão se desfazendo dos títulos soberanos da Venezuela e o mercado se prepara para a possiblidade de um calote .
Não dá para culpar a baixa dos preços do petróleo por tudo. Afinal, como lembra Keith Johnson, já faltava papel higiênico nas prateleiras dos supermercados quando o barril de petróleo era exportado a 115 dólares e não a 60. O governo recorre a desesperadas, cinicas e demagógicas  medidas, como indiciar a líder oposicionista Maria Corina Machado por envolvimento em uma suposta trama para assassinar o presidente Maduro.
Agora, o presidente Obama deverá assinar as sanções aprovadas pelo Congresso americano, restringindo viagens e congelando bens de algumas autoridades chavistas, acusadas de abusos de direitos humanos, na repressão a protestos no primeiro semestre que deixaram 40 mortos. Maduro vai tentar distrair o país dos seus problemas internos (em grande parte criados pelo próprio chavismo). Ele vai à carga com fuzilaria mais retórica do que efetiva contra aqueles que já rotulou esta semana de “imperialistas insolentes”.
De volta ao alarmista Pedro Burelli. Ele arremata que a oposição está acuada e dividida, mas, mesmo que houvesse possiblidade de substituir Maduro, será duríssimo curar tantos males. No país desgovernado por um ex-motorista de ônibus (não sei se Maduro era bom condutor do coletivo), Burelli recorre à seguinte metáfora: a Venezuela é, de fato, um ônibus quebrado, avançando rumo ao abismo, sem freios, direção paralisada e um motorista bêbado. Quem sabe, tarde demais para trocar de motorista. O problema é o ônibus. No entanto, algo deve ser tentado ainda no precipício.

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