quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Caio Blinder- O nazista da família Assad (Assad, o mal menor?)


O sádico Brunner em Damasco
O sádico Brunner em Damasco
Sei que a conversa sobre Oriente Médio e os descaminhos da Primavera Árabe é circular (na segunda-feira, aliás, publiquei coluna sobre o círculo egípcio). E no círculo do debate, existe o argumento de que, com a coisa tão horrenda nas bandas de Siraque (Síria + Iraque), o ditador Bashar Assad, no final das contas, é o mal menor diante da barbárie que é o terror do Estado Islâmico ou o mero cenário de distopia na guerra civil.
Para quem se consola com a cascata do “mal menor”, aqui vai uma historinha que veio a público esta semana. O caçador de nazistas Efraim Zuroff, do Centro Simon Wiesenthal, em Jerusalém, confirmou a morte de Alois Brunner, o mais procurado nazista. Ele, de fato, morreu há quatro anos.
O austríaco Brunner vivia há décadas na Síria, onde se refugiou sob o nome de George Fisher e assessorava a ditadura do papai de Assad (Hafez), que recusou várias vezes os pedidos de extradição. Há informações de que o nazista trabalhou como conselheiro de segurança de Rifaat Assad, tio do atual ditador, ou seja, ensinando técnicas de interrogatório e tortura (Rifaat hoje vive no exílio europeu, mas esta é outra história).
Antes, Brunner assessorou Adolf Eichmann, um dos arquitetos da “solução final”, aquele que foi sequestrado pelo Mossad na Argentina, julgado e executado em Israel em 1962. Brunner foi o responsável pela deportação de 130 mil judeus para os campos da morte na Segunda Guerra Mundial.
Já havia suspeita da morte de Brunner, mas com a confusão da guerra civil síria a confirmação ficou mais complicada. Ele teria completado 102 anos na segunda-feira passada. Brunner era conhecido como um nazista sádico e fanático.
Em uma entrevista dada a uma revista alemã em 1985, ele foi perguntado se tinha remorsos. Resposta: “Meu único remorso é não ter matado mais judeus”. Brunner foi julgado à revelia na França em 1954 por crimes contra a humanidade e condenado à morte (23 mil das deportações foram de judeus franceses). O Mossad tentou assassiná-lo duas vezes.
A historiadora do Holocausto Deborah Lipstadt conhece bem a ficha de Brunner. Em entrevista ao site da revista The Atlantic, ela disse que o nazista era chegado no regime Assad, nunca amigável com judeus e conhecido por seu “asqueroso prontuário em direitos humanos”. Como observou Lipstadt, Brunner não “ficou 30 anos pescando na Síria”. Ele trabalhava para a ditadura.
O caçador de nazistas Zuroff complementou que Brunner ensinou técnicas de tortura ao papai Hafez (agora na guerra civil, o filho Bashar empreende terror e tortura em escala industrial).
Deborah Lipstadt não é chegada na tese do banalidade do mal de Hannah Arendt, formulada durante o julgamento de Eichmann e cuja pedra de toque é que ele e companhia não eram assassinos monstruosos, mas burocratas que executaram clinicamente as ordem de genocídio. Lipstadt divaga que se Eichmann tivesse ido para a Síria, ao invés da Argentina, ele teria sido um homem feliz, assessorando a ditadura Assad.

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