segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Caio Blinder- O círculo egípcio

O círculo egípcio


Mubarak escapou de mais grades, mas o Egito está preso no círculo vicioso
Primavera Árabe e as outras estações políticas na região são assuntos obrigatórios na coluna. Portanto, com dias de atraso, vamos para o Egito. No sábado, um tribunal absolveu o ex-ditador Hosni Mubarak, 86 anos, de todas as restantes acusações criminais, a destacar responsabilidade na morte de centenas de manifestantes na rebelião de 2011 (ele ainda cumpre pena de três anos, condenado por corrupçã0). Na expressão do New York Times,  a decisão judicial é um “repúdio categórico da Primavera Árabe que removeu Mubarak do poder”.
Oficialmente, a absolvição decorreu de uma tecnicalidade. O juiz, como acontece nestas horas, insistiu que a decisão “não tem nada a ver com política”.  Tem tudo a ver. Afinal, as acusações contra Mubarak eram políticas, embora judicialmente válidas. Ele foi derrubado em fevereiro de 2011 por uma revolta popular conveniente para o aparato militar, para o qual o ditador se tornara nocivo e descartável. O processo judicial foi agilizado para conter o sentimento revolucionário no calor dos acontecimentos.
Os tempos mudaram. O Egito é controlado agora por Abdel Fatah el-Sisi. No parágrafo precioso de Max Fisher, do site Vox: “Sisi é um ditador militar e um nacionalista secular como Mubarak foi (e como o ex-ditador, abriu mão do título militar). O regime de Sisi se parece terrivelmente com o de Mubarak e inclui um tanto das mesmas pessoas. Sob Murabak, o judiciário era um órgão político de confiança do regime. A mesma coisa hoje”.
Em quatro anos, o clima político e a narrativa da mídia giraram do autoritarismo secular de Mubarak para o liberalismo da revolução de 2011, para o islamismo do governo democraticamente eleito em 2012 da Irmandade Muçulmana e para o golpe de Sisi em julho de 2013 de volta para o autoritarismo secular. O Egito andou em círculos. Há protesto e ressentimentos (mais entre setores do islamismo político do que entre liberais), mas o Egito hoje basicamente é um país politicamente exausto e com a economia exaurida, amargando um inverno bem mais longo do que a primavera.

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