quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Caio Blinder- Curtas & Finas (Rússia & URSS)

Fazer metáfora com ônibus desgovernado na Venezuela (como fiz na semana passada) é fácil. Afinal, o condutor é Nicolás Maduro, o ex-motorista de transporte coletivo. E na Rússia? Como o país ainda tem peso global, conduz uma política externa truculenta e  o condutor é o ex-major da KGB Vladimir Putin, quem sabe podemos arriscar que se trata de um jamanta que ameaça se desgovernar.
Não precisamos repetir tudo o que está acontecendo com a jamanta russa. Ela enfrenta uma tempestade perfeita. Faz o que pode para frear o risco, como implementar uma draconiana alta dos juros para estancar a hemorragia do rublo. A Rússia de Vladimir Putin está desesperada, apesar do vago semblante de negação da realidade do nosso homem em Moscou.
O grande drama é que a Rússia não tem exatamente uma economia, mas um negócio de exportação de gás e de petróleo, que subsidia de tudo, desde a assistência social aos sonhos de restauração de glórias imperiais. A tempestade perfeita existe devido à combinação de queda dos preços do petróleo com fatores mais geopolíticos como as sanções ocidentais adotadas em represália à agressão russa na Ucrânia.
Putin sonha em restaurar as glórias passadas. No entanto, é muito mais provável que repita o desastre soviético da época do esclerosado Leonid Brehznev. A Rússia de hoje tem algumas semelhanças com a URSS do final dos anos 70. Quando ocorreu a invasão soviética do Afeganistão em 1979, houve uma sensação de pânico e de desalento em muitas paragens ocidentais. Havia a ideia equivocada de que se tratava de um momento de triunfalismo soviético, com o Ocidente acuado. Os mais alarmistas achavam que a Guerra Fria estava perdida.
Sem dúvida, o Ocidente hoje está em uma condição estrutural mais frágil do que no final dos anos 70 (basta ver a União Europeia e o Japão).  No entanto, a situação russa agora, em comparação a do Ocidente, é de mais vulnerabilidade (nenhum consolo para ninguém e nem estou colocando no cenário os países emergentes). Na época da invasão do Afeganistão, o cenário era igualmente desastroso. No Afeganistão, a jamanta soviético despencou no seu Vietnã.
O desastre soviético se consumou com a queda dos preços do petróleo, que lubrificava a máquina de guerra, a miragem econômica e a farsa do modelo ideológico comunista. As coisas se esfarelaram como o muro de Berlim.
Putin invadiu a Ucrânia (e antes a Geórgia) quando o preço do barril de petróleo estava nos três dígitos. O preço despencou para a metade disso. Vamos ver quando e como vai despencar a jamanta conduzida por nosso homem em Moscou.



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