quarta-feira, 1 de outubro de 2014

YOANI SÁNCHEZ-Tiananmen novamente

Poucas vezes se pode adormecer a memória. As lembranças não conhecem permissões nem autorizações, retornam e ponto. Durante um quarto de século o Governo chinês tratou de apagar os acontecimentos da Praça Tiananmen, porém agora são evocados pelos milhares de jovens que protestam nas ruas de Hong Kong. É difícil não pensar naquele homem com sua sacola de compras postado em frente a um tanque, enquanto se olha esta gente que exige a demissão de um funcionário tão impopular como servil a Pequim.
Vinte e cinco anos tentando limpar a história oficial daquela outra convulsão social, que terminou na mais brutal repressão, não adiantaram muito. Estas ruas repletas de pessoa pacíficas, porém saturadas, demonstram-no. Contudo, também existem diferenças grandes entre a revolta de 1989 no gigante asiático e as manifestações atuais em sua “região de administração especial”. A mudança fundamental é que estamos sendo partícipes nas nossas televisões, diários digitais e redes sociais de cada momento vivido pelos hongkongneses. A falta de informação que cercou os protestos na Praça Tiananmen agora tem a sua contrapartida numa aluvião de tuits, fotos e vídeos que saem de milhares de celulares.
Por quantos anos o Governo da China tentará apagar o que hoje ocorre? Quanto reforçará a parede corta fogo para que dentro do país não saibam o que ocorre tão perto? A repressão violenta do passado só serviu para dar mais determinação e maior número de manifestantes nas ruas da ex-colônia britânica. Contudo, apesar das multidões e das inumeráveis telas digitais que brilham em meio à noite de Hong Kong, a memória se obstina em nos fazer voltar para um homem. Um indivíduo que voltava do mercado e que decidiu que as esteiras de um tanque não iriam esmagar o civismo que lhe restava. Vinte e cinco anos depois, a realidade devolveu o seu gesto.
Tradução por Humberto Sisley

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