segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Terceiro boletim do DataNunes desmente o Datafolha, prova que ‘empate técnico’ quer dizer ‘em cima do muro’ e constata que Aécio continua 10 pontos acima de Dilma

Até recentemente, o Brasil esquecia a cada 15 anos o que havia acontecido nos 15 anos anteriores.O intervalo entre os surtos de amnésia foi dramaticamente reduzido. No caso das pesquisas eleitorais, por exemplo, o país agora esquece a cada 15 dias o que aconteceu faz 15 dias. O afundamento do Datafolha e do Ibope consumado em 5 de outubro mal completou duas semanas. Mas parece mais antigo que o naufrágio do Titanic, informa o comportamento de milhões de nativos confrontados com levantamentos estatísticos que prenunciam a reprise do desastre.
A pesquisa divulgada pelo Datafolha nesta segunda-feira é apenas outro chute de longa distância que tanto pode acertar o ângulo do gol quanto o pau de escanteio. Na última sopa de algarismos servida pelo instituto, Aécio tinha 51% dos votos válidos e Dilma Rousseff, 49%. Nesta tarde, Dilma apareceu com 52% e Aécio com 48%. Quer dizer que a candidata à reeleição ultrapassou o adversário tucano e lidera a corrida? Não necessariamente, corrige a margem de erro de 2% (para cima ou para baixo). O que há é um “empate técnico”, expressão que, traduzida para língua de gente, significa: um dos dois vai ganhar.
Em números absolutos, Dilma teria subido em quatro dias 4 milhões de votos (ou 2 milhões, murmura a margem de erro para baixo; ou 6 milhões, gaba-se a margem de erro para cima). Sejam quais forem as reais dimensões da multidão, é gente que não acaba mais. De onde teria saído? Das grutas dos indecisos ou dos porões dos que pretendem votar em branco é que não foi: segundo o mesmo Datafolha, esse mundaréu de eleitores não aumentou nem encolheu. Teriam tantos aecistas mudado de lado? Pode ser que sim, avisa a margem de erro para cima. Pode ser que não, replica a margem de erro para baixo.
A paisagem fica mais confusa quando se fecha a lente sobre as quatro regiões em que se divide o mapa nacional. Os dois principais institutos de pesquisa enxergam Aécio na dianteira em três. Dilma só reina no Nordeste. Seria esse império eleitoral suficientemente poderoso para vencer o resto do Brasil? “Nem que a vaca tussa”, diria a presidente cujo vocabulário anda tão refinado quanto o figurino. Os horizontes se turvam de vez com a contemplação isolada das unidades da federação. Sempre segundo as duas usinas de porcentagens, Aécio já superou Dilma no Rio Grande do Sul, equilibrou a disputa no Rio, assumiu a liderança em Minas Gerais, cresceu extraordinariamente em Pernambuco. Cresceu em praticamente todos os Estados. Mas a soma dos Estados jura que foi Dilma cresceu mais. As alquimias dos ibopes não são acessíveis a cérebros normais.
Para acabar com a lengalenga, o DataNunes acaba de divugar o terceiro boletim do segundo turno, com margem de erro zero e índice de confiança acima de 100%. Como o crescimento de Dilma no Nordeste foi neutralizado pelo avanço de Aécio nas demais regiões, os índices não mudaram: com 55%, o senador do PSDB continua 10 pontos percentuais à frente de Dilma, estacionada em 45%. A troca de acusações intensificada nos últimos dias nada mudou. Os simpatizantes do PT não ficaram chocados com as agressões verbais de Dilma, nem estranharam o vocabulário de cabaré vagabundo usado por Lula. Sempre foi assim. Os partidários de Aécio, exaustos do bom-mocismo que contribuiu para a derrota de Serra em 2002 e 2010 e para o insucesso de Alckmin em 2016 aplaudiram o desempenho do líder oposicionista. Graças à altivez e à bravura de Aécio, pela primeira vez os vilôes do faroeste não conseguiram roubar até a estrela do xerife.
Enfim desafiados publicamente, os campeões da insolência piscaram primeiro. No debate da Record, Dilma escancarou já na entrada do saloon a decisão de fugir do tiroteio verbal que esquentou o confronto no SBT. Compreensivelmente, Aécio resolveu levar a mão ao coldre com menos frequência. Mas a sensatez recomenda que se mantenha na ofensiva. Ele conseguiu transformar-se no porta-voz dos muitos milhões de indignados. Hoje, Aécio Neves representa o Brasil que resiste há 12 anos a um bando para o qual os fins justificam os meios. No domingo, o país não vai simpleesmente optar entre Aécio Neves e Dilma Rousseff. A nação decidirá entre a decência e o crime, a honradez e a corrupção, o Estado de Direito e o autoritarismo bolivariano, os democratas e os liberticidas, a luz e a treva.
Mais que o segundo turno da eleição presidencial, vem aí um plebiscito: o PT continua ou cai fora? A segunda opção pavimenta a estrada que leva a civilização. A primeira mantém o país enfurnado na trilha do primitivismo.
Augusto Nunes

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