sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Está faltando o espetáculo eleitoral



Por Leonardo Corrêa, publicado no Instituto Liberal
Me dei a pachorra de assistir aos debates eleitorais de 1989, todos disponíveis no “YouTube”. A comparação com o quadro atual é triste. Essa história de todos comportadinhos, fingindo que estão na Suíça, revela um absoluto desprezo pela realidade do país. Infelizmente, o brasileiro gosta mesmo é de um Big Brother Brasil –com muita baixaria.
Nesse contexto, olhando para os nossos cidadãos, eleição se ganha no grito e na empolgação da retórica. Se o povo gosta de pão e circo no dia a dia, por que vai querer um desfile de bom-mocismo nas eleições?
É preciso de sangue, empolgação e gana. O povo quer ver os candidatos se enfrentando – ou, se se preferir, “o circo pegar fogo”. Gostemos ou não, ataques pessoais e bons jogos de retórica (usando palavras de uso cotidiano) fazem parte disso. Não precisamos retroceder, mas essa campanha está “sem sal”.
O desprezo pelo bom discurso e a boa retórica são erros gravíssimos em política, e, também, no dia a dia de nossas vidas. Seres humanos não são absoluta e irrestritamente racionais. A emoção faz parte de todas as escolhas que fazemos.
Um pouco de sarcasmo, retórica e uma ou outra explosão nos momento apropriados devem ser ferramentas de um debate eleitoral. A política não segue o rigor da academia. Focar na razão e em explicações fundamentadas é um tiro certeiro no pé. Mais vale gerar um constrangimento em seus oponentes do que mostrar a lógica de suas propostas. Triste mas verdadeiro…
Grande parte dos eleitores quer ver o espetáculo, os embates, os ataques e as derrotas. Eles querem pão e circo. Quem for astuto o suficiente para atender a esse anseio do povo, com certeza irá se destacar.
Perguntas moduladas para uma resposta “sim ou não” são excelentes para isso. Um exemplo: “Sim ou não, Candidato(a), o Senhor(a) foi ou não responsável pela farra de crédito que está destruindo a nossa economia? Sem enrolação, sim ou não!!” Causa muito mais impacto, desestabiliza e diverte o povo.
Ressalto, ainda, que o gosto pelo “espetáculo eleitoral” não é uma excentricidade brasileira. Nenhum candidato americano, por exemplo, despreza a importância do show. As eleições nos EUA têm apelo, troca de farpas e muita emoção.
Fico estarrecido com a postura de nossos candidatos. Assistam aos vídeos das eleições de 1989 no Brasil, e, para os que falam inglês, os debates de Reagan contra Carter (1980) e Mondale (1984). Vale, também, verificar os embates entre Clinton e Bush (pai), além de todos os de Barack Obama. É pura retórica, com muita nitroglicerina e fogos de artifício. Nenhum destes craques desprezou o “espetáculo eleitoral”. Espero que nossos candidatos atuais acordem para esse fato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.