sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A morte da verdade no debate público

Armínio Fraga precisou voltar ao tema da desinformação deliberada no debate público, para rebater os novos ataques que sofreu de petistas e simpatizantes. Eu já tinha refutado as falácias dos seus detratores aqui, mas é sempre melhor ver do próprio acusado uma resposta devida. E a reposta foi transparente, mostrando casos concretos de tentativa de manipulação do que foi realmente dito. Conclui o ex-presidente do BC:
No campo da distribuição e igualdade de oportunidade, além de continuar com bons programas como o Bolsa Família, pretendemos se nos for dada a chance focar na qualidade da educação, saúde, transportes e segurança públicos. Pretendemos também eliminar ao longo do tempo a parte injustificada das medidas de proteção, subsídio e desoneração voltadas a empresas (o chamado bolsa empresário do atual governo) e direcionar esses recursos para programas de maior retorno social, com relevantes benefícios distributivos.
Nem tudo deu errado no âmbito da economia durante os anos do PT no poder, mas o modelo de Dilma nos deixou mal parados, precisando urgentemente de uma correção de rumo. No mais, sigo enjoado com a maneira desonesta pela qual pessoas como Mattoso e Rossi se colocam. Ninguém tem o monopólio da indignação e do repúdio à pobreza e à desigualdade. Nada justifica o descuido com as palavras e os fatos no debate público.
Em sua coluna no mesmo jornal, foi a vez de Eduardo Giannetti da Fonseca, assessor de Marina Silva, condenar a mesma prática difamatória que tem como alvo a candidata do PSB que disparou nas pesquisas. Tenho várias ressalvas em relação a um eventual governo Marina, mas não posso discordar de Giannetti quando diz que o “debate” descambou para o lado da pura difamação pessoal. Diz ele:
“Fundamentalismo” e “criacionismo” são alguns dos palavrões, em sentido lato, que o desconhecimento de uns e desespero eleitoral de outros vêm tentando colar ao nome de Marina Silva. O difícil, nestes casos, é saber onde termina a ignorância e tem início a má-fé.
Enquanto ela estava fora do páreo, prevalecia a indiferença condescendente. Agora que lidera as pesquisas, são todos especialistas em Marina: uma brigada de colunistas, blogueiros e franco atiradores sente-se autorizada a despejar na mídia e na cracolândia da internet uma pavorosa barragem de desinformação e preconceito saturado de rancor sobre a candidata.
Que sua ascensão a torne alvo preferencial é natural e salutar. É hora de explicitar acordos e divergências. O que espanta, contudo, é ver pretensos guardiões da ciência e racionalidade embarcarem em grosseiras inverdades factuais.
Em seguida, Giannetti argumenta que Marina nunca sustentou tal fundamentalismo e que defende o estado laico de forma rigorosa. Ainda aproveita para espetar os adversários de Marina, que foram beijar as mãos de evangélicos influentes (e de reputação nada ilibada) para tentar ganhar alguns votos extras. Como fica a hipocrisia?
São épocas eleitorais, sabemos que o jogo se joga na linha abaixo da cintura, especialmente quando o PT está em campo. É golpe baixo o tempo todo, e quem perde é o eleitor, pois em um mar de mentiras fica difícil separar o joio do trigo e o que é informação relevante.
Como disse, tenho várias ressalvas quando se trata de Marina, mas seu suposto fundamentalismo religioso não é uma delas, ao menos não uma das principais. Incomoda-me seu longo passado petista, seu silêncio quanto ao mensalão quando ainda era do PT e do governo Lula, seu ambientalismo romântico que pode ameaçar o agronegócio, locomotiva de nossa economia hoje estagnada, seu alinhamento ideológico com o MST, o fato de seu atual partido PSB se dizer socialista e participar do Foro de São Paulo, sua inexperiência administrativa, etc.
Será que é mesmo preciso partir para ataques pessoais com base em sua fé religiosa? É disso que o eleitor precisa para decidir melhor? Acredito que não. Gostaria de ver menos difamação e mais debate. Será que é possível?
Rodrigo Constantino

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