domingo, 7 de setembro de 2014

A política da arte e o pobrismo de butique

Se juntarmos uma elite fútil e culpada com oportunistas de plantão em tempos de intenso relativismo moral e estético, o que teremos como resultado? Resposta: a Bienal de São Paulo. O culto ao feio nunca esteve tão na moda, assim como a tentativa de se enaltecer a pobreza. É o velho “pobrismo” que tanta gente já condenou antes, com razão.
Se tudo é arte, então nada é arte. E a “arte” foi tomada por “artistas” engajados ideologicamente que só conseguem produzir lixo, que passa a ser tratado como pérola nas mãos de curadores igualmente incompetentes e politicamente engajados. É uma combinação fatal para a estética e a ética. Ou seja, é a morte da verdadeira arte.
A Bienal de São Paulo deste ano já tinha produzido uma aberração: “artistas” que escreveram uma carta de protesto ao governo de Israel, demonstrando seu duplo padrão moral, seu ranço ideológico, sua infantilidade e sua patologia, tudo de uma só vez, já comentado por mim aqui. Agora foi a vez de o editorial da Folha bater na politização da turma:
Já se noticiou que o público poderá ver uma pintura realista de presidiários de Belém; um vídeo que narra a transformação de um travesti em pastor; uma simulação cinematográfica da implosão do Templo de Salomão; uma coleta de imagens feitas pela polícia durante manifestações.
Em sintonia com esse figurino, um grupo de 55 dos 86 artistas assinou manifesto que pede à Fundação Bienal a devolução do patrocínio de Israel (R$ 90 mil num total de R$ 24 milhões) a título de protestar contra o massacre em Gaza.
Compreende-se a revolta contra a investida israelense, mas não faz sentido pressionar a Bienal a criar uma lista de negra de nações.
Quais seriam os critérios? Contribuições dos EUA, país com tradição de intervenções militares, deveriam ser vetadas? A China, uma ditadura, estaria impedida de doar? Não seria o caso de censurar o apoio do próprio Brasil, onde a violência mata muito mais do que no conflito israelo-palestino?
Apesar de seu pretenso simbolismo, o protesto dos artistas parece equivocado e pueril. Ganhará o público se a qualidade estética das obras expostas no Pavilhão do Ibirapuera mostrar-se mais sofisticada do que a visão política que embasou esse manifesto.
Claro que tal ilusão é infundada e ingênua. E uma excelente reportagem da Veja desta semana joga a pá de cal nesses iludidos, ao descrever com precisão o tipo de evento que vem por aí: o pobrismo de butique. Como dizem os autores, “Não faltam exercícios de relativização moral típicos do marxismo jacu”.
O “coitadismo” das “minorias” é sua marca registrada, tudo para atacar o capitalismo, o papa, as “elites” – as mesmas que vão lá ver toda a porcaria, pois ninguém acha que o público-alvo são os pobres exaltados nos murais. A reportagem conclui:
pobrismo
Ouch! O que é invisível mesmo, nesse meio “artístico”, é a habilidade, a criatividade, a verdadeira arte, aquela que se pretende eterna, e não efêmera, para ser consumida por gigolôs intelectuais e burgueses culpados pela situação de opulência material em um mundo desigual. Que essa elite covarde busque ajuda num divã, mas deixe a arte em paz, livre de tanta poluição ideológica!
Rodrigo Constantino

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