sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Caio Blinder- Pagar ou não o terror? Eis o dilema

Dilema e agonia: um governo deve negociar com terorristas a libertação de reféns? Pagar o resgate encoraja mais terrorismo; a recusa pode resultar na morte do refém, como acaba de acontecer com o jornalista americano James Foley, assassinado com requintes de barbaridade e exibicionismo pelos jihadistas ensandecidos do grupo Estado Islâmico (aliás, minha leitora Andrea só escreve o nome desta facção em letras minúsculas).
A política oficial do governo americano é não negociar nem pagar resgate. E se uma empresa privada entra neste jogo para conseguir a liberdade de um funcionário, é processada por financiar terrorismo. De acordo com as informações do ex-empregador de Foley, o site americanoGlobal Post, o Estado Islâmico exigia US$ 132 milhões pela libertação do refém.
Nos porões da vida, tudo é mais complicado. Nos anos 80, o governo Reagan se viu envolto em profunda crise política e constitucional no escândalo Irã-Contras. O escândalo envolveu o financiamento ilegal e fornecimento de armas aos rebeldes anti-sandinistas da Nicarágua (os “Contras”), assim como a venda ilegal de armas ao Irã dos aiatolás, para conseguir a libertação de sete reféns americanos capturados no Líbano por terroristas patrocinados pelo regime iraniano. O dinheiro obtido com a venda de armas ao Irã foi usado para comprar as armas para os “Contras”.
O esquema rachou o governo Reagan. Entre as figuras contrárias estava o secretário de Estado, George Schultz, que se referiu ao “bazar dos reféns”, quando três que tinham sido libertados foram substituídos por outros três. Leis foram violadas e a imagem de Reagan manchada (com o cenário até de impeachment). O presidente se safou, sua popularidade se recuperou e ele deixou a Casa Branca em 1989 com o índice de aprovação mais alto desde Franklin Roosevelt. A taxa de aprovação de Barack Obama hoje está em baixa e não há notícia de nenhuma tentativa de barganhar pelo jornalista James Foley. A opção do governo americano foi lançar uma operação de resgate que fracassou.
A postura britânica em princípio é igual a dos EUA. O governo de Londres não negocia nem paga resgate. No entanto, faz vista grossa quando empresas privadas e pessoas se mobilizam para conseguir a libertação de reféns. Isto aconteceu, por exemplo, em 2012 no caso de Judith Tebutt que estava nas mãos de terroristas na Somália. Nunca houve um processo.
Outros países europeus são mais desenvoltos para negociar abertamente com terroristas, como França, Itália e Espanha. Basta ver que dois jornalistas franceses que estiveram no cativeiro com James Foley foram libertados. Uma recente reportagem do New York Times revela que a rede Al Qaeda faturou pelo menos US$ 125 milhões desde 2008 com pagamento de resgate.
Israel, como de hábito, age em faixa própria. Seu governo negocia a libertação de seus cidadãos e é capaz de fazer concessões espetaculares. Basta ver que 1.027 prisioneiros palestinos foram trocados por apenas um soldado (Gilad Shalit) em 2011. Israel barganha até a recuperação de restos mortais de seus soldados. Existe o fulminante porém. Israel vai à carga contra quem sequestra seus cidadãos mesmo depois do acordo consumado. Na quinta-feira, o alvo foi Raed al-Attar, em cujo prontuário esteve o sequestro de Shalit. Ele e mais dois comandantes militares do Hamas morreram em um ataque aéreo israelense em Gaza.
Se eu tiver que barganhar entre estas quatro políticas de relacionamento com terroristas, eu me rendo à israelense.

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