terça-feira, 26 de agosto de 2014

Caio Blinder- Hamas, Hamas; Jews to the gas (Hamas, Hamas; Judeus para o gás)

Na Alemanha (na Alemanha)
Na Alemanha (na Alemanha)
A coluna de segunda-feira termina com meu I have a dream, meu sonho de mais denúncias contra o antissemitismo, enquanto setores da opinião pública europeia estão mais entretidos em denunciar Israel na guerra de Gaza, tratando com descaso a barbárie do terror islâmico, o genocídio praticado pelo ditador Bashar Assad e as atrocidades cometidas por milícias xiitas no Siraque. Hora de trazer para a conversa o meu afiado guru Jeffrey Goldberg, que alerta para a “lenta rendição da Europa para a intolerância”.
Calejado no seu cinismo sobre antissemitismo europeu (hoje o foco de atividade está entre imigrantes muçulmanos, mas a inspiração está na linguagem e nas tradições do antissemitismo europeu), Goldberg ainda sim confessa sua surpresa com a intensidade e a velocidade da hostilidade. Ela inclui desde o infame slogan que rima Hamas e gás para os judeus em manifestações na Alemanha (eu repito, na Alemanha) a pressões em um supermercado de Londres para que não sejam vendidos produtos made in Israel. Em um primeiro gesto, o gerente retirou alimentos casher das prateleiras. Mais tarde, a direção do supermercado pediu desculpas à clientela judaica.
Existe esta confluência entre judaísmo e Israel. Na expressão de Goldberg, atacar um judeu francês com o solidéu é um sucedâneo para atacar Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel. Os dois são judeus, correto? Goldberg toca num ponto muito inquietante no comentário sobre este movimento global contra Israel. A guerra em Gaza é vista por muitos como uma continuação da Guerra de Independência de Israel em 1948 e não a dos Seis Dias em 1967 (que resultou na ocupação de Gaza e Cisjordânia). Na tradução: muitos manifestantes estão desafiando o mero direito de existência de Israel e não sua política nos territórios (Gaza, aliás, foi devolvida aos palestinos em 2005).
O segundo ponto inquietante: praticamente desapareceu a linha que separa antissionismo (a crença que os judeus não têm o direito a um estado independente na sua terra ancestral) do antijudaísmo. Como diz a historiadora Deborah Lipstadt, “70 anos depois do Holocausto, os judeus não se sentem seguros na Europa”. Recomendo aqui a leitura do seu texto. Aliás, poucas coisas são tão insuportáveis para mim como judeus antissionistas desfilando com a fantasia de descendentes de vítimas do Holocausto.
Lá pelas tantas, Goldberg volta ao incidente no supermercado em Londres, a mesma cidade onde prospera o recrutamento de militantes (os adeptos do jihadismo cool) para o grupo Estado Islâmico, que está cometendo as barbaridades no Siraque. Por alguns cálculos, há mais jovens muçulmanos britânicos combatendo em nome do Estado Islâmico do que no Exército da rainha Elizabeth. Para Goldberg, tem sido lenta a resposta na Europa ao ódio e à intolerância.
A horrenda cena da decapitação do jornalista americano James Foley provavelmente por um jihadista britânico a serviço do Estado Islâmico acelera o tom de alerta e as providências contra o perigo de uma juventude radicalizada na Europa. Sobre as denúncias e a conteção do antissemitismo, eu volto à primeira linha da coluna: I have a dream.

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