
“Putin quer exportar a ideia de que a soberania nacional prevalece sobre a universalidade dos direitos humanos”, diz Tanya Lokshina (Foto: Luiz Maximiano)
AS MARIONETES DE PUTIN
A diretora da Human Rights Watch em Moscou diz que o presidente russo usa o americano Edward Snowden como instrumento de propaganda e agora faz o mesmo com os Brics
Entrevista a Duda Teixeira publicada em edição impressa de VEJA
O escritório de Moscou da ONG Human Rights Watch (HRW), que defende os direitos humanos no mundo, tem sido constantemente atacado nos últimos dois anos. Uma suástica já foi pintada na sua fachada, telefones foram grampeados e funcionários receberam ligações ameaçadoras.
Quem está por trás disso é o serviço secreto russo, segundo a diretora da ONG na Rússia Tanya Lokshina, de 41 anos e um filho de 18 meses. Na semana passada, ela esteve em São Paulo enquanto o presidente russo Vladimir Putin se reuniu com os chefes de Estado na VI Cúpula dos Brics, em Fortaleza e Brasília.
Na nota divulgada pela Cúpula dos Brics aparece o conceito de “inclusão social”. Putin pode se gabar disso?
O que ele tem feito na Rússia é a “exclusão social”. Após protestos contra o seu governo em 2012, o presidente dividiu a sociedade em dois grupos: os que estão com ele e os que estão contra ele. Quem vive quieto, não participa de manifestações e não o critica pode fazer muita coisa. Muito mais do que era permitido na União Soviética. Viajar, ler os livros que quiser e ir a eventos.
Mas, se um indivíduo expõe seu descontentamento com o Kremlin em público, então se põe imediatamente em perigo. É como se a União Soviética caísse em cima dele. Desde a volta da democracia não se via uma repressão tão grande contra a liberdade de expressão e contra as organizações da sociedade civil.
Não há canais de televisão independentes, pessoas são presas apenas por protestar, blogueiros são obrigados a se registrar no Ministério das Comunicações e sites têm sido fechados sem nenhuma justificativa decente.
Em meados do ano passado, a Rússia concedeu asilo ao americano Edward Snowden, que revelou documentos secretos do governo americano. Não seria isso uma prova de que Putin valoriza os direitos humanos e a liberdade de expressão?
Eu encontrei Snowden no Aeroporto Sheremetyevo, de Moscou. Um dia antes, recebi o convite por e-mail, assinado por ele. Apesar de a minha área de pesquisa ser outra, já sabia de quem se tratava.
Pouco antes eu ajudei a redigir uma declaração da HRW em que dizíamos ser importante existir uma proteção aos whistleblowers (dedos-duros, em inglês), como Snowden. Achávamos que, se ele fosse extraditado, seria muito provável que acabasse sendo exposto a um tratamento desumano. Mas eu não dei muita bola para aquele convite estranho e fui para casa.
No dia seguinte, meus telefones começaram a tocar sem parar. Então, descobri que tinha sido incluída em uma lista de convidados, de várias organizações, para participar de um encontro com o americano.
Snowden organizou isso de dentro do aeroporto?
Certamente, não. Foi então que comecei a suspeitar do envolvimento do serviço secreto russo. O anúncio da tal reunião foi feito por um advogado de alto perfil e muito leal ao Kremlin. Ao olhar os nomes dos convidados, ficava claro que a lista tinha sido feita pelas autoridades russas. » Clique para continuar lendo e deixe seu comentário
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