sexta-feira, 25 de julho de 2014

ENTREVISTA: “Desde a queda da União Soviética, não se via uma repressão tão grande como a imposta por Putin na Rússia”

Ricardo Setti


"Putin quer exportar a ideia de que a soberania nacional prevalece sobre a universalidade dos direitos humanos", diz Tanya Lokshina (Foto: Luiz Maximiano)
“Putin quer exportar a ideia de que a soberania nacional prevalece sobre a universalidade dos direitos humanos”, diz Tanya Lokshina (Foto: Luiz Maximiano)
AS MARIONETES DE PUTIN
A diretora da Human Rights Watch em Moscou diz que o presidente russo usa o americano Edward Snowden como instrumento de propaganda e agora faz o mesmo com os Brics
Entrevista a Duda Teixeira publicada em edição impressa de VEJA
O escritório de Moscou da ONG Human Rights Watch (HRW), que defende os direitos humanos no mundo, tem sido constantemente atacado nos últimos dois anos. Uma suás­tica já foi pintada na sua fachada, telefones foram grampeados e funcionários receberam ligações ameaçadoras.
Quem está por trás disso é o serviço secreto russo, segundo a diretora da ONG na Rússia Tanya Lokshina, de 41 anos e um filho de 18 meses. Na semana passada, ela esteve em São Paulo enquanto o presidente russo Vladimir Putin se reuniu com os chefes de Estado na VI Cúpula dos Brics, em Fortaleza e Brasília.
Na nota divulgada pela Cúpula dos Brics aparece o conceito de “inclusão social”. Putin pode se gabar disso?
O que ele tem feito na Rússia é a “exclusão social”. Após protestos contra o seu governo em 2012, o presidente dividiu a sociedade em dois grupos: os que estão com ele e os que estão contra ele. Quem vive quieto, não participa de manifestações e não o critica pode fazer muita coisa. Muito mais do que era permitido na União Soviética. Viajar, ler os livros que quiser e ir a eventos.
Mas, se um indivíduo expõe seu descontentamento com o Kremlin em público, então se põe imediatamente em perigo. É como se a União Sovié­tica caísse em cima dele. Desde a volta da democracia não se via uma repressão tão grande contra a liberdade de expressão e contra as organizações da sociedade civil.
Não há canais de televisão independentes, pessoas são presas apenas por protestar, blogueiros são obrigados a se registrar no Ministério das Comunicações e sites têm sido fechados sem nenhuma justificativa decente.
Em meados do ano passado, a Rússia concedeu asilo ao americano Edward Snowden, que revelou documentos secretos do governo americano. Não seria isso uma prova de que Putin valoriza os direitos humanos e a liberdade de expressão?
Eu encontrei Snowden no Aeroporto Sheremetyevo, de Moscou. Um dia antes, recebi o convite por e-mail, assinado por ele. Apesar de a minha área de pesquisa ser outra, já sabia de quem se tratava.
Pouco antes eu ajudei a redigir uma declaração da HRW em que dizíamos ser importante existir uma proteção aos whistleblowers (dedos-duros, em inglês), como Snowden. Achávamos que, se ele fosse extraditado, seria muito provável que acabasse sendo exposto a um tratamento desumano. Mas eu não dei muita bola para aquele convite estranho e fui para casa.
No dia seguinte, meus telefones começaram a tocar sem parar. Então, descobri que tinha sido incluída em uma lista de convidados, de várias organizações, para participar de um encontro com o americano.
Snowden organizou isso de dentro do aeroporto?
Certamente, não. Foi então que comecei a suspeitar do envolvimento do serviço secreto russo. O anúncio da tal reunião foi feito por um advogado de alto perfil e muito leal ao Krem­lin. Ao olhar os nomes dos convidados, ficava claro que a lista tinha sido feita pelas autoridades russas. » Clique para continuar lendo e deixe seu comentário

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