segunda-feira, 23 de junho de 2014

Caio Blinder- A pátria de chuteiras (Camarões)







O Brasil joga nesta segunda-feira contra Camarões, uma das lendas do futebol africano, com quatro títulos continentais, uma medalha de ouro olímpica (2000) e que chegou às quartas-de-final na Copa de 1990, quando alcançou a sétima colocação. Existem outras proezas. Camarões tem um bicampeonato: nos anos 90, ganhou duas vezes a taça de país mais corrupto do mundo.
Ainda hoje, o craque é o presidente Paul Biya. Ele integra a briosa seleção africana de ditadores. Tem jogador que está há mais tempo na disputa para ver quem chuta qualquer um com mais sadismo ou quem rouba mais. Basta lembrar talentos como Teodoro Obiang, de Guiné Equatorial (no poder desde 1979), e o déspota imortal Robert Mugabe, do Zimbábue. Biya é um garotão de 81 anos (no poder desde 1982). Mugabe, manda-chuva desde 1980, festejou 90 anos em fevereiro.
No entanto, Biya tem o seu valor. A lendária seleção dos Camarões de 1990 ficou conhecida como “Leões Indomáveis”. O cartola vitalício deu a si o título de “homem-leão”. E, de fato, ele é um devorador das riquezas do país (pobre Camarões, tem petróleo) e dos inimigos. Biya é apenas o segundo presidente da história do país, que conquistou a independência em 1960. O pai da pátria, Ahmadou Ahidjo, preparou Biya para ser seu marionete, mas ele passou a manipular os cordéis.  Ahidjo acabou indo para o exílio e Biya sequer permitiu que ele fosse enterrado na terra natal.
A primeira-dama Chantal e a socialite Paris Hilton
A primeira-dama Chantal e a socialite Paris Hilton
Byia negligencia os graves problemas nacionais. Camarões integra o cinturão de países ao sul do Sahara com profundas divisões étnicas, sócio-econômicas e religiosas (entre cristãos e muçulmanos). Os terroristas islâmicos do grupo nigeriano Boko Haram, aliás, usam Camarões como base. Apesar dos seus péssimos indicadores sócio-econômicos, o país é um dos maiores importadores africanos de champagne francesa. Biya tem um estilo de vida nababesco na companhia de sua Maria Antonieta, a primeira-dama Chantal, 38 anos mais jovem do que ele.
Biya foi educado para ser padre em um seminário por missionários católicos. Ele decidiu, porém, saltar as etapas e se converter em papa dos Camarões dotado de infabilidade. Melhor não fazer piadas ou revelações sobre as condições de saúde do ditador. Um jornalista em Camarões pegou um ano de prisão quando sugeriu que Biya tinha problemas cardíacos quando pareceu que desmaiara, assistindo a um jogo de futebol há 16 anos.
Mais uma fábula sobre o “homem-leão”. Em 1992, diante de pressões, Biya convocou as primeiras eleições multipartidárias na história de Camarões. Acredita-se que elas tenham sido vencidas por John Fru Ndi. No entanto, um juiz da Corte Suprema disse que suas mãos estavam “amarradas” e ele deu a vitória para Biya.
No Manhattan Connection, de domingo, o apresentador Lucas Mendes me perguntou quem vai dar o cartão vermelho para Paul Biya. Provavelmente algum outro Biya.
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