segunda-feira, 16 de junho de 2014

Caio Blinder- O mandato histórico de Juan Manuel Santos

Com  a vitória no segundo turno da eleição presidencial colombiana de domingo, o presidente Juan Manuel Santos conseguiu um mandato histórico. Em primeiro lugar, a eleição era um referendo sobre sua missão para negociar um acordo de paz com a guerrilha (não apenas as Farc, mas agora o ELN, o segundo maior grupo rebelde).
E em segundo lugar, o mandato é histórico, pois a rigor esta é a primeira vitória de Juan Manuel Santos por seu próprio mérito. Ele chegou ao poder em 2010 como herdeiro do presidente Álvaro Uribe, de quem fora ministro da Defesa, justamente pelo sucesso militar para enfraquecer a guerrilha associada ao narcotráfico.
Uribe, porém, rompeu de forma estridente com seu sucessor, furioso por ele ter abandonado a mão dura e dado a guinada para negociações, que acontecem em Havana. Seu instrumento de atuação era o candidato Óscar Ívan Zuluaga, que venceu no primeiro turno, fazendo uma campanha com acusações de que Santos era um traidor e um “castrochavista”, como se o presidente de centro-direita fosse um cúmplice de Cuba e da Venezuela.
É verdade que Santos venceu no segundo turno graças ao apoio da esquerda e de uma parcela do eleitorado que abandonou a indecisão. No entanto, este é um país confuso. Quer continuidade do processo de paz, depois de 50 anos de guerrilha com um saldo de mais de 200 mil mortos, mas está cético sobre o desfecho das negociações (entre outras coisas, os guerrilheiros narcotraficantes não serão punidos por seus crimes).
Mais do que isto, apesar do caráter histórico do que está em jogo na Colômbia, o clima de apatia é grande. O nível de abstenção no domingo foi menor do que no primeiro turno (60%), mas se manteve muito alto  no segundo (53%), com Santos obtendo 51% dos votos contra os 45% de Zuluaga.
Juan Manuel Santos acena com a esperança da paz. No entanto, um mote de sua campanha foi investir no medo de que com Zuluaga no poder haveria uma escalada de violência e também danos ao robusto crescimento econômico. Pessoalmente, eu creio ser correta a cartada de Juan Manuel Santos, mas existe o paradoxo. Ele conseguiu um mandato histórico, mas é cedo para dizer se o presidente vai alçar um plano de vôo tão alto como as pombas brancas que simbolizavam sua campanha.
Neste segundo mandato de Santos, os falcões do uribismo, com o capital político obtido neste último ciclo eleitoral, não darão trégua ao governo, posicionando-se como alternativa política em caso de fracasso do processo de paz.
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PS- Em uma nota mais leve, momento para o Instituto Blinder & Blainder cantar vitória. É verdade que seus analistas de Copa levaram este colunista perna-de-pau a chutar feio no Manhattan Connection de domingo sobre o resultado do jogo Grécia x Colômbia, mas a divisão de projeções eleitorais fez bonito, acertando em cheio que Santos venceria este segundo turno. A vitória já fora prevista, de forma “insegura”, na coluna publicada por ocasião do primeiro turno no último dia 15.



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