quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

HOTEL DE OSSOS

É raro conhecer um humano, ainda mais vivo que tenha prazer em dormir serenamente no Hotel de Ossos. Pois Melsíades era este homem, sempre fazendo apostas com os amigos e conhecidos que pernoitaria sobre as geladas tampas de mármores das moradas eternas. Entrava no hotel antes da meia-noite e saí às seis horas da manhã. Ficava lá mais sozinho que um outrora rico quebrado. E assim por diversas vezes fez apostas com diferentes pessoas, sempre vencendo e ganhando alguns trocados. Nem mesmo noites de louca tempestade o faziam desistir; duelava sem trégua contra raios e trovões. No Bar do Cide eram feitas provocações já com o objetivo traçado e dali saíam às apostas que terminavam sempre nos bolsos de Melsíades. No Hotel  havia tumbas que traziam o desgaste provocado pelo corpo do inabalável corajoso, ousado cavaleiro dormente e não raras vezes também saltitante sobre repousos de mármore ou de tijolos sem alisamentos. Então numa noite que todos ainda recordam nas conversas miúdas na praça de Belvedere, nos botecos e nos chás de comadres, Melsíades entrou no cemitério valendo mais uma aposta e na manhã seguinte não saiu. Nunca mais foi encontrado. Na mesma noite sumiu a mulher do Cide. Até mesmo o Cide aposta que ela fugiu com o dito. Pelo jeito não é dó de ossos e apostas que ele gostava.

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