terça-feira, 13 de agosto de 2019

A VIDA DO HOMEM - H.L. MENCKEN

A velha noção antropomórfica de que todo o universo se centraliza no homem – de que a existência humana é a suprema expressão do processo cósmico – parece galopar alegremente para o balaio das ilusões perdidas. O fato é que a vida do homem, quanto mais estudada à luz da biologia geral, parece cada vez mais vazia de significado. O que no passado, deu a impressão de ser a principal preocupação e obra prima dos deuses, a espécie humana começa agora a apresentar o aspecto de um subproduto acidental das maquinações vastas, inescrutáveis e provavelmente sem sentido desses mesmos deuses. 

Um ferreiro fabricando uma ferradura produz também algo quase tão brilhante e misterioso – uma chuva de faísca. Mas seus olhos e pensamentos, como sabemos, não estão nas faíscas, e sim na ferradura. As faíscas, na verdade, constituem uma espécie de doença da ferradura; sua existência depende de um desperdício de seus tecidos. Da mesma maneira, talvez o homem seja uma doença localizada no cosmos – uma espécie de eczema ou uretrite pestífera. Existem, é claro, diferentes graus de eczemas, assim como há diferentes graus de homens. Sem dúvida, um cosmos afligido por uma infecção de Beethovens jamais precisaria de um médico. Mas um cosmos infestado por socialistas, escoceses ou corretores da Bolsa deve sofrer como o diabo. Não é surpresa que o sol seja tão quente e a lua tão diabeticamente verde.

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