Não importava o sol abrasador que torrava os
miolos. Não importava o odor terrível que emanava daqueles latões de lixo,
tanto que até urubus passavam por perto usando máscaras. Mas Demétrio não se
importava; lá estava ele todos os dias mexendo em tudo, fedendo ele próprio
mais que os restos ali depositados. Seu corpanzil há anos não sabia o que era
uma carícia das águas que não fosse da chuva. Carregava moscas pelo rosto todos
os dias, como se fosse um lotação de insetos, sendo algumas também embarcadas
nas orelhas. Vivia, comia e dormia na imundície, lugar mais sujo impossível. O
corpo adornado de perebas já nem se importava mais. Assim foi por muitos e muitos
anos. Porém um dia acordou sentindo-se estranho, muito diferente. Olhou para
algumas ratazanas com segundas intenções. Estava dentuço e peludo. Tinha agora
os gostos de um rato, bigodes de rato, orelhas de rato, dentes de rato, enfim,
transformara-se num rato. Ao contrário do caixeiro- viajante Gregor Samsa, de
Kafka, o Demétrio rato estava feliz. E assim continuou vivendo por mais alguns
dias até ser comido por um gato esfomeado.
domingo, 6 de maio de 2018
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